Em meio a uma década de más notícias, a Associação Mundial de Jornais está celebrando os resultados de seu relatório anual ‘Tendências da Imprensa Mundial – 2005’, com dados consolidados do ano passado. Pela primeira vez, o estudo alcança todos os 215 países ou territórios onde existe imprensa diária. Alguns números são animadores, mas ainda não há sinal de uma retomada consistente para o mais tradicional formato da imprensa. O crescimento é desigual, acompanha o dinamismo das economias regionais e não há evidências de uma relação direta entre uma imprensa mais forte e condições mais favoráveis à liberdade de expressão.
Larry Kilman, diretor de Comunicação da Associação Mundial de Jornais, anuncia um crescimento de 2,1% na circulação dos jornais em 2004. Agora, o total de exemplares vendidos diariamente chega a 395 milhões e calcula-se que 1 bilhão de leitores partilhem essas cópias. Nos mesmos 12 meses do ano passado, a receita de publicidade apresentou o melhor resultado desde o ano 2000, com um aumento de 5,3% nos ganhos. Nada mal para um setor maduro, imerso em crise crônica e submetido a grandes questionamentos quanto à sua capacidade de sobrevivência.
No entanto, os números dizem muito, mas não contam tudo. Por exemplo, houve um crescimento de 32% no acesso a sites de jornais em 2004, mas esse valor se torna relativo quando se considera que a leitura de notícias em blogs independentes cresceu 58% nos Estados Unidos no mesmo período, segundo o ‘Projeto para Excelência em Jornalismo – 2005’, realizado como parte do currículo da escola de graduação em Jornalismo da Universidade Colúmbia, em Nova York.
Outro aspecto interessante: os leitores de blogs independentes são majoritariamente jovens, do sexo masculino, com alto índice de escolaridade, mas tende a crescer também o acesso de usuários com idades entre 30 e 49 anos, aumentando a diversidade dos leitores que preferem se informar em fontes não-tradicionais. Em geral, os padrões americanos acabam se repetindo nos demais mercados.
China supera Japão
Timothy Balding, diretor-geral da Associação Mundial de Jornais, festejou os números de 2004 como um sinal de que os jornais ‘estão claramente produzindo um renascimento com de novos produtos, novos formatos, novos títulos, novas abordagens editoriais, melhor distribuição e melhor marketing’.
Países emergentes, como Índia e China, contribuíram com o surgimento de novos títulos e o crescimento de publicações tradicionais, como resultado da crescente inserção de suas economias no mercado global, o que resultou no aumento de 2% no número de títulos em 2004. Parte disso também é resultante de experiências de jornais tradicionais da Alemanha com tablóides dirigidos aos jovens – onde o maior número de títulos não garantiu um aumento na circulação.
De fato, o crescimento da circulação global de jornais foi fortemente influenciado pela Índia, a China e o Japão, onde os resultados refletem o maior dinamismo econômico daqueles países. Mercados tradicionais como Estados Unidos e Alemanha perderam leitores. Desde 2004, os cinco maiores mercados da imprensa diária são a China, com 93,5 milhões de exemplares vendidos, a Índia, com 78,8 milhões, o Japão, com 7,04 milhões, os Estados Unidos, com 48,3 milhões, e a Alemanha, com 22,1 milhões de exemplares vendidos diariamente.
A pesquisa, publicada anualmente pela Associação Mundial de Jornais desde 1986, alcançou neste ano todos os 215 países e territórios onde são publicados jornais. Em 44% desses países houve aumento nas vendas de diários, enquanto em 12% deles a situação permaneceu inalterada. Três quartos dos 100 diários de maior circulação são publicados na Ásia, com a China superando o Japão como o país com o maior número de publicações na lista das 100 maiores.
Formato reduzido
Na América Latina, o lançamento de títulos populares nas grandes capitais e a retomada de campanhas após o enxugamento das despesas e realinhamento das dívidas das grandes companhias de mídia produziram um aumento de 6,3% na circulação paga. A Associação Mundial de Jornais destaca, porém, a dificuldade para obtenção de dados confiáveis sobre a América Latina, dando conta de que o Brasil apresentou em 2004 um crescimento de 0,8% nas vendas diárias de jornais, mas esse número ainda representa uma queda de 17,2% sobre os resultados de cinco anos atrás.
Os ganhos com publicidade cresceram 5,3% em 2004, após um aumento de 2% em 2003, mas a participação dos jornais no bolo da receita publicitária caiu de 30,5% em 2003 para 30,1% em 2004. A recuperação em grandes mercados, como o norte-americano, ainda é lenta e dificultada pela crescente participação da mídia online não tradicionalmente dedicada a notícias: o total de anúncios na internet cresceu 24% no ano passado, e grande parte dessa receita foi para o caixa de empresas como Google e Yahoo!.
Em países em que houve grande queda no faturamento de publicidade por parte da imprensa tradicional, foi constatado também o crescimento do mercado de diários gratuitos. Na Espanha, cresceu 40% a circulação dos diários distribuídos gratuitamente. Na Itália, cresceu 29%, na Dinamarca, 27%, e em Portugal, 25%. Além disso, percebe-se uma tendência à mudança no formato dos jornais. Cerca de 36% dos jornais em todo o mundo são agora impressos em formato reduzido, representando um crescimento de 2% em 12 meses.
Renovação limitada
O relatório da Associação Mundial de Jornais tem algumas curiosidades. Os noruegueses continuam sendo os campeões de leitura: 651 em cada mil pessoas compram jornais diariamente. Em segundo vêm os japoneses, com 644 compradores por mil habitantes; em terceiro, os finlandeses, 522 por mil; os suecos ficam em quarto lugar, com 489 leitores fiéis de jornais em cada mil habitantes. Enquanto isso, na Bolívia, apenas 5% da população compram um jornal ocasionalmente.
Outros dados curiosos: na Bósnia, 53% dos adultos não confiam em nenhum meio impresso. Na Guiné Equatorial não existe imprensa e os jornais são fotocopiados. Na Índia, os jornais disputam leitores de 18 diferentes idiomas, e muitos deles são publicações trilíngues. Em Moçambique, o principal meio de distribuição de jornais é o fax. Muitos diários são compostos por quatro páginas de fax, incluindo anúncios. No Uzbequistão, o governo inventou o jornal sem notícia. Jornais privados podem publicar anúncios, horóscopo e outros textos, mas não notícias.
Na Jordânia, a lei exige que as editoras de jornais tenham um capital mínimo de 700 mil dólares, o que limita as possibilidades de renovação da imprensa. Por outro lado, para se tornar editor-chefe, o profissional precisa ter pelo menos 10 anos consecutivos de carreira como jornalista.
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Jornalista