Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O brinquedinho da hora

A internet de bolsa já chegou ao Brasil há muito tempo. Agora é a vez da internet de bolso. Ondas gigantescas estão alvoroçando mares nunca dantes navegados ou pouco navegados. A mídia migra do papel para a telinha de computadores, notebooks, laptops, smartphones ou para simples celulares, desde que possam abrir umbrowser e conectar-se à internet.


No último fim de semana, começou a ser vendido nos EUA o iPad, da Apple, que tinha sido apresentado em janeiro. Jornalistas doNew York Times e doWall Street Journal testaram a nova engenhoca e publicaram o que acharam do bichinho.


Foram destacadas as seguintes qualidades: manuseio fácil, velocidade, duração da bateria (cerca de 12h). David Pogue, doWall Street Journal, fez generosa avaliação: ‘O iPad é tão rápido e leve, a tela tão brilhante e sensível, o software tão fácil de navegar, que ele realmente se qualifica como uma nova categoria degadget‘.


Não vejam como discriminação o que o jornalista acrescentou: ‘Alguns sugeriram que ele poderia ser um computador à prova de erros para tecnófobos, idosos e crianças, e eles estão absolutamente certos’. A eventual discriminação, no caso, seria com as crianças, que hoje já nascem mexendo nessas geringonças. Tecnófobos e idosos só têm a ganhar com a internet de bolso. Mas, atenção! Aqui é indispensável uma variável de classe social. Essas tecnologias ainda são caras e de modo algum estão democratizadas. A senha para usufrui-las ainda é o dinheiro. O iPad custa entre US$ 499 e US$ 829.


Só com alegria


As revistasNewsweek eTime também aprovaram o bichinho e elogiaram seu criador, Steve Jobs, da Apple. ATime sublinhou que os milhões de usuários que acessavam seu conteúdo por celular, agora serão beneficiados pelo novo invento.


No Brasil, o jornalO Globo, que já estava disponível no Kindle, lançou seu conteúdo também pelo iPad. O patrocínio é da Fiat e o endereço é www.oglobo.com.br/ipad


Todavia nem tudo são memórias de alegria nas avaliações. Ler notícias, reportagens, ensaios e livros, tudo bem. E baixar livros, fotos e vídeos, usar redes sociais como Orkut, Facebook, Sonico etc., tudo bem também. Mas se você precisa criar documentos e planilhas, sai de baixo porque aí é que a porca torce o rabo. Nas videoconferências e aulas teletransmitidas etc., certamente nelas o iPad vai tropeçar.


A revistaO Globo Digital deu chamada de capa ao assunto (edição de 5/4/10, pág. 2 e 3). E este artigo é pouco mais do que um resumo da síntese ali apresentada. Os redatores destacaram aquela que pode ser a pedra de tropeço da nova engenhoca. O jornalista David Pogue, que fez duas avaliações – uma para o público, outra para os especialistas em tecnologia – pôs em relevo que a desvantagem do iPad não é apenas o preço. Ou o preço visto de outro mirante: ‘Você pode comprar um laptop por um preço muito menor, com um teclado completo, drive de devedê, entradas USB,slot para cartão da câmera, tudo’. E Walt Mossberg lembrou que o iPad é ‘incrivelmente rápido’, mas ‘tem limitações’, como a falta de GPS na versão wi-fi.


Encerro com minirrelato de uma experiência. No Carnaval de 2010, me recolhi para escrever. Teria ficado todo o tempo sem internet, não fosse o Blackberry e a Nextel. Pelo pendrive da Vivo não pude acessar nada. E eu não estava na selva amazônica. Estava no estado do Rio de Janeiro. Vocês me perguntarão: mas não se recolheu justamente para escrever? Pois é, mas quem escreve sem internet hoje em dia? E, além do mais, já viram colunista tirar férias, descanso, esquecer seu ofício no fim de semana? Ainda bem que sigo o lema posto à porta da biblioteca de José Mindlin: ‘Não faço nada sem alegria’.


 


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Escritor, professor da Universidade Estácio de Sá e doutor em Letras pela USP; seus livros mais recentes são o romanceGoethe e Barrabás eDe onde vêm as palavras