Afinal, o que é noticia?
Tudo começou quando Chris Peck, editor do Commercial Appeal , na cidade norte-americana de Memphis provocou um pequeno terremoto na redação de seu jornal ao anunciar o que ele considera serem as novas características da notícia no universo jornalístico.
Logo em seguida o assunto foi transformado em post no respeitado blog First Draft (Primeiro Rascunho ), do jornalista e professor Tim Porter, e depois saltou para a agenda nacional de debates da Associação Norte Americana de Editores de Jornais (ASNE ), criada em 1922 e que reune a nata dos editores executivos da imprensa dos Estados Unidos.
Os conceitos que provocaram tanta celeuma são os seguintes:
1) Uma notícia será o resultado de uma conversa sobre o que faz sentido no mundo atual e não a consequência de um sermão;
2) A notícia será produzida por pessoas escolhidas pela comunidade e não por uma casta de eleitos;
3) A notícia será baseada na sabedoria de muitos e não nas idéias de uns poucos;
4) As notícias serão compostas por múltiplas percepções, variando desde posições individuais até interpretações ultra-sofisticadas de profissionais respeitados;
5) As notícias serão produzidas initerruptamente e disponíveis em sistemas eletronicos como telefones celulares, computadores e outros euipamentos altamente sofisticados;
6) As noticias serão tratadas segundo as perspectivas das redes sociais, da idade e grupos étnicos.
Boa parte da celeuma teve origem no fato desta ser a primeira vez que um editor de um jornal respeitado adotar publicamente as mesmas idéias propostas pelos adeptos de novas formas de jornalismo, como o que usa pessoas comuns na coleta e publicação de notícias.
A redefinição do que é notícia é talvez o processo mais complexo em toda a revisão de métodos e estratégias que os jornais e os jornalistas estão sendo obrigados a fazer por conta do impacto de revolução digital no dia a dia da imprensa.
A mudança não se limita a novas regras ou novos conceitos. Chris Peck afirma que ela vai afetar a forma como os jornalistas pensam. ‘O cérebro da notícia não está mais apenas nas redações. Está nas ruas e nos milhares de blogs que estão dizendo aos profissionais da informação: quem constrói uma notícia somos todos nós, e não apenas vocês’, garante o editor do Commercial Appeal.
Algumas destas idéias já haviam sido mencionadas antes por Tim Porter num paper chamado Repensando a Fábrica da Notícia no qual ele criticava duramente os donos de jornais por terem investido apenas 0,7% de seus lucros na capacitação técnica de repórteres, editores, fotógrafos e cinegrafistas para enfrentar os novos desafios da era digital.
O Readership Institute (Instituto dos Leitores), um projeto universitario e empresarial nos Estados Unidos propoe que a grande conversa na imprensa comece dentro dos próprios jornais, e criou um blog especifico para esta finalidade .
Aqui no Brasil, os primeiros sinais de que algo começa a mudar no meio jornalístico é a iniciativa da ECA (Escola de Comunicação e Artes), de São Paulo, com o apoio de alguns grandes grupos de mídia do país, de criar um centro de estudos sobre tendências na imprensa.