A história da reviravolta da posição do governo em relação à CPI mista dos Correios ainda está para ser contada como se deve.
Hoje, enquanto os sites jornalísticos noticiavam que o PT decidira dar fim às tentativas de impedir que a comissão se instalasse, por decisão da Câmara, a pretexto de que lhe falta “fato determinado” a investigar, os jornais impressos chamavam a atenção para o que seria o golpe de mão do partido.
A esperteza consistiria em trabalhar por uma CPI do B, a do mensalão, restrita à Câmara e voltada para as denúncias do deputado Roberto Jefferson. O seu sensacional “fato determinado – a alegada compra de parlamentares do PL e do PP pelo tesoureiro do PT Delúbio Soares por 30 mil dinheiros mensais – desviaria para ela os holofotes que de outro modo se concentrariam no inquérito parlamentar dos Correios, enfim acolhida pelo PT.
“A estratégia, proposta pelo governo e debatida na noite de ontem pelos líderes dos partidos aliados, é usar essa CPI para esvaziar a dos Correios”, informou o Valor.
Sem bancar essa hipótese com todas as letras, o Globo abriu espaço para os líderes do PFL e do PSDB na Câmara condenarem a CPI do B pelo mesmo motivo.
O Estado ficou em cima do muro, mais por fora do que por dentro: “Aliados ainda tentam barrar investigação”, anunciou em título, ressalvando porém no sub: “Objetivo continua sendo derrubar CPI, mas líderes avaliam apresentação do parecer”.
A Folha, que declarou o inquérito dos Correios “fato consumado”, citando avaliação dos líderes governistas no Congresso, ignorou a suposta manobra petista de curar picada de cobra com veneno (diluído) de cobra. Mas deu uma informação preciosa: “O governo teme que uma CPI dos Correios, ao ser instalada, rapidamente se preste à investigação de todo o governo federal”.
Poderia ter acrescentado que era isso que o PT queria com a malograda CPI da Corrupção no governo passado, mas deixa pra lá.
A armação ficou aparentemente ainda mais clara durante o dia, quando correu que a CPI da Câmara não se limitaria ao mensalão. Com o nome chapado de CPI da Compra de Votos, exumaria também a nunca investigada história (que rendeu ao repórter Fernando Rodrigues, da Folha, um Esso de Reportagem) dos deputados que receberam dinheiro para apoiar a emenda constitucional da reeleição de Fernando Henrique, há oito anos.
Mas uma solitária matéria do Correio Braziliense lançaria um raio de sombra sobre as alegadas maquinações cpianas do PT. Nela se lê que a idéia de aderir enfim à investigação dos Correios foi enfiada goela abaixo da cúpula do partido pelo próprio presidente Lula, ontem à noite.
O presidente da agremiação, José Genoíno e o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, entre outros cardeais petistas, fizeram tudo para dissuadir Lula da idéia – a seu ver, uma jogada de altíssimo risco (no que não deixam de ter razão).
Não se sabe se lá da Península Ibérica onde se encontra, o ministro José Dirceu, citado semana passada como tendo dito que tinha chegado ao seu “limite” com Lula, por não lhe dar trela, palpitou na discussão.
Se a versão é verdadeira, eis aí mais um sinal de que Dirceu tem realmente do que se aborrecer com o presidente: ele não ouve o partido. Só o Palocci: podem apostar que ele foi o mentor do arrastão nas diretorias dos Correios e do Instituto de Resseguros.
Como diria um chinês, vivemos tempos interessantes. Reportagem neles.