Depois de fazer um pente fino nos cursos de medicina e direito, o Ministério da Educação vai colocar sob a lupa os cursos de comunicação e jornalismo de todo o país, numa operação que seguramente vai provocar muita polêmica.
Não apenas por conta da avaliação dos padrões de ensino, mas também porque a proposta do MEC envolve a questão da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, bem como coloca na mesa a discussão sobre o papel da comunicação no mundo atual.
Embora o ministério ainda não tenha dito claramente o que quer e como vai implementar as mudanças, é voz corrente que o ministro Fernando Haddad deseja transformar o curso de comunicação numa espécie de complemento da graduação. Os médicos, engenheiros e advogados, por exemplo, poderiam ter um diploma de comunicação cursando apenas mais dois anos.
Este é o esquema que prevalece nas universidades norte-americanas, onde o jornalismo é uma especialização e não um curso completo de graduação, de quatro anos.
Uma mudança como essa já está gerando uma enorme polêmica concentrada especialmente em torno da questão da obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercer a atividade.
As queixas de que a mudança baixará os padrões de qualidade na formação dos comunicadores esbarram no fato de que em vez de quatro será de seis anos o tempo mínimo para que um estudante consiga um diploma para exercer o jornalismo. Teoricamente, isso significa maiores exigências para qualificação, mas essa suposta melhoria depende do que for ensinado nos dois anos de especialização.
Se for mantida a base do currículo atual, a reforma não servirá para nada porque a universidade continuará formando graduados que terão enormes dificuldades para conseguir emprego porque sua qualificação está aquém das exigências do mercado.
É necessário levar em conta todas as mudanças em curso na área da informação e da comunicação, especialmente o papel que a internet está jogando nesse campo. O jornalismo está cada vez mais condicionado pelas novas tecnologias digitais, que estão introduzindo novos comportamentos, rotinas e principalmente novos valores no exercício da comunicação.
O protagonismo inédito do público na produção e publicação de notícias, a autoria coletiva, a nuvem informativa e a mudança dos padrões de certificação de credibilidade são algumas das novas rotinas que estão gerando novos comportamentos, que por sua vez mexem com valores há muito arraigados na pratica do jornalismo.
Se o MEC está achando que a mudança vai promover apenas um expurgo dos cursos sem qualificação mínima, o ministro estará dando um tiro no pé. A questão é muito mais complexa do que a burocracia brasiliense, aparentemente, imagina.