O noticiário sobre as prováveis causas da tragédia do Airbus da TAM responde com quase certeza à grande pergunta que o percorre:
Se tudo, tudo, tudo fosse igual – o equipamento, os pilotos, a carga, o tempo lá fora e quaisquer outros fatores que influem no desempenho de um avião como aquele no momento do pouso -, mas fosse outra a pista e outro o aeroporto, será que o desfecho teria sido o mesmo?
Muito dificilmente – ou, simplesmente, não.
Por isso, o Ministério Público pediu a interdição de Congonhas. Por isso – pondo a tranca depois de arrombada a porta – a Infraero decidiu que de agora em diante a pista será fechada quando chover.
Essa mesma pista em relação à qual a Aeronáutica abrandou os procedimentos para fechá-la quando chovesse, apuraram os repórteres Kleber Tomaz e Alencar Izidoro, da Folha.
Essa mesma pista que foi liberada antes do término de sua reforma por ‘pressões das companhias aéreas’, apurou o repórter Iuri Dantas, da Folha.
Essa mesma pista que não dispõe do sistema de contenção de concreto poroso que se rompe com o peso dos aviões e assim ajuda a freá-los – e que já evitou nos Estados Unidos quatro desastres similares ao de Congonhas, como se viu no Jornal Nacional de ontem e se lê na matéria de hoje da correspondente do Estado, Patrícia Campos Mello.
Essa mesma pista ‘que não permite erros, transformando falhas pequenas em grandes tragédias’, como observou o americano Joseph Fox, ex-piloto militar no Vietnã, ao jornalista Roberto Godoy, do Estado.
Escreve Godoy: ‘Entre 1987 e 1990, ele participou de um grupo de consultores internacionais contratado pelo governo estadual para elaborar um programa de reorganização do sistema aeroportuário paulista. O plano não foi concluído.’
Que não se queira, portanto, explicar a tragédia basicamente por alegadas falhas humanas e/ou mecânicas. Congonhas – incluídos no termo a irresponsabilidade da Infraero e a ganância das aéreas – fez toda a diferença.
P.S. Tolerância zero
Disse o presidente da TAM, Marco Antonio Bologna, que a pista escorregadia e sem ranhuras não causou a tragédia, pois, desde a sua (inacabada) reforma, no fim de junho, aviões da empresa pousaram ali 2.160 vezes.
Ele há de saber perfeitamente bem que o princípio maior de tudo que é feito em nome da segurança de vôo é o da tolerância zero. Claro que acidentes acontecem: por isso se chamam acidentes. Apesar do que se faz para evitá-los. Quando sucede o pior, porque não se fez tudo que é humanamente possível para preveni-lo, o nome é outro.
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