Depois de quatro semanas em greve e sem negociações abertas com o governo, faço um balanço dessas semanas de luta e muita raiva.
Quero começar pelo fim: dia 31/03/10 – professores acuaram representantes da imprensa em frente ao Parque Trianon, na Avenida Paulista, em São Paulo. Fiquei ali, quietinho, observando tudo. As jornalistas da Globo e da Record, bem vestidas, cabelos tratados, brilhantes, corpinhos em forma, isoladas por um cordão de PMs. Definitivamente, a maior parte de nós, professores, barbados, cabelos brilhando de suor, não teríamos muitas chances…
Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? É que junto de nós havia também inúmeras professoras. Muitas delas também belas – belas por quanto tempo, numa profissão tão sofrida e sem reconhecimento social? Havia outras, trazendo nas roupas etiquetas e faixas da greve, e na face os vincos das preocupações, indignações, tristezas e perplexidades de muitos dramas da vida pessoal e da vida no magistério – será que elas sabem que uma psicóloga ao clinicar, mesmo tendo apenas um paciente, é obrigada a fazer análise? Fico imaginando quantos alunos essas professoras ‘levaram para casa’ ao preparar o jantar para os filhos. Quantos problemas a suportar sem suporte institucional para ajudá-las a manter a sanidade, o equilíbrio. É, caro leitor, só é feia quem não tem dinheiro…
Um pouco de moderação
Voltando para o perrengue da imprensa, é claro que sou contrário a qualquer violência. Eu, que com 38 anos peguei o finzinho da ditadura, jamais vou menosprezar a liberdade de expressão. Mas aquelas repórteres bonitas tem liberdade de expressão? Ou apenas reportam a visão dos fatos que interessa à linha editorial de quem lhes paga os salários, a academia, as escovas e as roupas bacanas?
Na Praça da República, vi uma viatura da Globo ser escorraçada – sou contrário a chutarem viaturas da Globo. Mas como são bonitas as danadas das viaturas da Globo. Prateadas, último tipo, nem sei a marca, fico imaginando as parafernálias eletrônicas que carregam – acho que muitos professores topariam morar num furgão daqueles, rapidinho. Quanto será que custam?
Continuando a análise (extremamente parcial) dessas últimas semanas, o jornalista Gilberto Dimenstein, daFolha de S.Paulo, após nos chamar de baderneiros, num outro artigo justificou-se dizendo que não é nem PSDB e nem PT. Acredito. Concordo mesmo que Dimenstein talvez já tenha sido alguma coisa. Hoje não é nada.
Já o Reinaldo Azevedo, daVeja, atacando a Apeoesp o Lula, e todos os que estão a mais de um milímetro da direita, esse eu não sei se é alguma coisa. Fico imaginando se a Opus Dei comprou espaço na revistaVeja e noticiaram falsamente que foi uma rede de comunicações sul-africana. Mandei umpost (que não vai ser publicado) para esse moço. Nele, peço com sinceridade um pouco de moderação em relação às críticas e exemplifico apontando o caso do santo padre João Paulo II, que lutou para livrar sua amada Polônia do imperialismo soviético. Escrevi para o Reinaldo que até o santo padre não se esforçou tanto quanto devia contra outros comedores de criancinhas. Às vezes é tão difícil encontrar a verdade…
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Professor de História da rede pública de São Paulo