Hoje (2/2) é o Estadão que publica editorial sobre os dados relativos à segurança pública divulgados no início da semana pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Aparentemente, a situação do editorial em relação à reportagem publicada no jornal no dia 31 é simétrica à da Folha em relação à reportagem desta, Folha, sobre o mesmo assunto, comentada aqui.
Na Folha, a reportagem destacou o aumento do número de seqüestros em contraste com a redução do número de homicídios dolosos e o editorial fez o inverso. No Estadão, o editorial detalha os problemas de segurança. Talvez, e a preocupação faria sentido, para evitar que seja visto como veículo engajado na pré-campanha do governador. Talvez, e isso faria mais sentido ainda – no bom sentido, é claro – simplesmente para tentar se aproximar mais da verdade.
O editorial começa sem ilusões quanto ao contexto da divulgação dos dados: “Em clima de campanha, deixando claro que utilizará a política por ele adotada em São Paulo no combate à violência como bandeira eleitoral, o governador Geraldo Alckmin divulgou um balanço sobre a criminalidade em São Paulo”.
Um leitor mencionou em comentário ao tópico acima referido a inconsistência desse tipo de estatística no Brasil. No clima de nervosismo que assola o debate de idéias ultimamente, o leitor não leu, ou não levou em consideração, a seguinte frase do texto que escrevi: “… porque todas essas estatísticas são pouco confiáveis. É só conversar com um demógrafo que ele explica”.
Bueno. Mas o editorial do Estadão toca também nesse ponto: “A grande falha da pesquisa anunciada por Alckmin diz respeito ao número de seqüestros relâmpagos, justamente o tipo de crime que mais assusta a população”. Diz em seguida que a notificação correta dessas ocorrências não está sendo feita. E conclui: “No cômputo geral, o balanço anunciado por Alckmin, embora contenha vários dados positivos, peca pela ausência de dados sobre seqüestros relâmpagos. E também mostra que, apesar dos progressos, a polícia ainda tem muito o que fazer para reduzir os níveis de criminalidade no estado”.
Se todos os números e feitos que serão agitados durante a vindoura campanha eleitoral pudessem receber na imprensa esse tratamento criterioso seria ótimo. Pena que as coisas não funcionem assim.