O PT, segundo os jornais, está trabalhando para mudar a imagem de sua candidata à presidência da República. Ela mesma faz questão de dizer que nunca foi ‘uma dama de ferro’, referindo-se à comparação com a ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher. E tem toda razão. Margareth Thatcher, a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro (e por enquanto a única) na Inglaterra, começou na política em 1959 e só vinte anos depois chegou ao poder maior no seu país. Construiu uma carreira sólida, governou com mão de ferro e nunca – ao que se tem notícia – se referiu a qualquer homem como seu guia ou mestre, embora tenha sido iniciada na política pelo marido, um alto executivo da indústria petrolífera.
Na matéria ‘Dilma larga o figurino de dama de ferro’, o jornalO Estado de S.Paulo diz que a tática do PT é ‘humanizar’ a candidatada – que rebate a fama de durona – e apresentá-la como uma mulher comum, com família e amigos: ‘Nunca fui uma dama de ferro. É um estereótipo, uma imagem irreal’, disse a candidata ao jornal (4/4/2009).
‘Herdeira de Lula’?
O que Dilma não esclarece é o que ela é de verdade. Por enquanto, o eleitor só foi informado de uma coisa: ela foi a escolhida por Lula. Mas o que os eleitores gostariam de saber é por quê. Será que, do alto do seu imenso carisma, Lula escolheu um candidato (ou melhor, uma candidata) que jamais fará sombra ao seu governo, ou ele realmente acredita que Dilma poderá ser melhor do que ele? Por mais que o PT tente vender a continuidade do sucesso de Lula, os eleitores – aqueles que não são petistas de carteirinha – vão querer votar em alguém em quem confiem, alguém que prometa fazer mais. Ou pelo menos fazer coisas diferentes nas áreas que não vão bem.
Os argentinos, quando escolheram Cristina Kirchner, votaram na continuidade do governo do seu marido. Mas a situação era diferente: afinal, sabiam que toda noite, pelo menos na hora de jantar, ela poderia discutir com ele seus problemas mais urgentes. Se eleita, Dilma não poderá contar com o ombro amigo do seu protetor, pelo menos da forma como acontece na Argentina. Se eleita, ela vai estar por conta própria, contando apenas com sua capacidade de decidir e com os conselheiros do seu partido, entre os quais estará o então ex-presidente Lula.
A pergunta que o PT deveria se fazer é se o partido está disposto a mostrar aos eleitores a verdadeira Dilma Rousseff, que chegou ao cargo de ministra da Casa Civil por seus méritos pessoais e história passada. Ou vai insistir em mostrar apenas ‘a herdeira de Lula’? Ela, como candidata, como mulher e como ser humano, deveria ser a primeira a insistir em ganhar votos por seus méritos, e não apenas porque foi ‘ungida’ pelo presidente mais popular que o Brasil já teve.
Programa de ‘humanização’
A julgar pelo que o PT considera ‘humanização’, vamos ver, a partir de agora, a candidata passeando com cachorro, dançando em festas populares e passando ao povo – como disse um nordestino morador de São Paulo – a imagem de ‘tonta’.
Enquanto isso, a candidata Marina da Silva e o candidato José Serra – que não precisam ser ‘humanizados’ porque construíram suas carreiras políticas a partir de votos populares – começam a campanha falando de valores pessoais e projetos de governo.
Talvez a imprensa deva fazer o papel que os partidos não fazem: revelar, em detalhes, quem são os três candidatos – em sua ‘humanidade’, mas, principalmente, nos seus objetivos. Se os jornais e emissoras de TV continuarem seguindo cada passo de Dilma Rousseff – até quando ela passeia com seu cachorro como parte do programa de ‘humanização’ – estarão fazendo o jogo PT e do governo, tornando a imagem da candidata cada vez mais familiar aos leitores (eleitores) enquanto a dos outros contendores fica em segundo plano.
******
Jornalista