Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Esperanças traídas

A imprensa tem surpresas extraordinárias. Num jornal em estado agônico, assolado por diferentes males, abre-se um caderno que se lê quase inteiro com prazer, pela inteligência dos textos. Trata-se do Caderno B do Jornal do Brasil de hoje (27/12). Não é por acaso que isso acontece. O caderno tem o dedo de gente tarimbada, sob o comando de Ziraldo.


De um texto de Eric Nepomuceno (“Quando os sonhos acabam”) extraio uma passagem que põe o dedo em várias feridas. Nepomuceno diz que parou de sonhar – de se lembrar dos sonhos – em 1988, numa noite de agosto na Nicarágua. Mas lhe restaram as esperanças. E aí entra o presidente Lula:


E é justamente do que se trata: trair esperanças. As minhas, nem tanto: apostei pouco, quase nada, nele. Pressenti sempre que por trás da soberba se escondia o vazio de um símbolo sem outra consistência que a própria simbologia cuidadosamente lapidada. Ainda assim, havia – confesso – uma réstia de esperança.


A culpa de Luiz Inácio da Silva é outra: é ter traído a esperança de milhões de pessoas, dentro e fora do Brasil. Esse pecado, ela terá de purgar para sempre.


O que aconteceu e acontece agora não começou com ele. Vem de antes, muito antes. O mal de tudo é que, além de queimar esperanças, Luiz Inácio da Silva alimentou a ira vingativa dos que sempre fizeram a mesma coisa que ele. Quer dizer: o que Luiz Inácio da Silva fez foi fechar ainda mais as já estreitas portas do futuro.


Essa culpa ele vai carregar para sempre. Sonhando ou não”.


Quantas pessoas não assinariam esse texto? Eu assinaria. Com uma ressalva: não creio que Luiz Inácio da Silva carregue culpa nenhuma. Para carregar culpa é preciso sentir culpa.