Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma farsa para abafar um furo

A revista IstoÉ Dinheiro, em sua edição de número 406, publicou, como
reportagem de capa, uma entrevista que abalou o meio político brasileiro e abriu
novas frentes de investigação para a CPI dos Correios. Foi aquela em que
Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério de Souza,
um dos donos da agência SMP&B, apontou as ligações do ex-chefe com a cúpula
do PT e ainda relatou saques de altas somas de dinheiro para pagamentos de
políticos.


Desde então, a grande maioria da imprensa brasileira utilizou tal entrevista
como ponto de partida para novas investigações. Veículos, como IstoÉ,
Folha de S.Paulo, TV Globo e a revista Veja descobriram,
inclusive, fatos novos que vieram a confirmar boa parte do que Karina dissera à
IstoÉ Dinheiro.


A exceção coube à revista CartaCapital, que cedeu seu espaço editorial
para uma versão delirante: a de que a entrevista teria sido estimulada pelo
empresário Daniel Dantas, do grupo Opportunity. O ‘indício’ usado pela revista é
um suposto e-mail que eu, editor de economia da IstoÉ Dinheiro e autor da
entrevista com a secretária, teria trocado com Dantas.


Sem checagem


Tal e-mail, porém, é uma fraude grosseira. CartaCapital publica uma
suposta mensagem de 9 de abril de 2005, que teria partido do endereço
attuch@terra.com.br. No entanto, a empresa Terra Networks, um dos maiores
provedores de internet do Brasil e do mundo, informa através de sua diretora
jurídica, Fabiane Reschke Vicenzi, que tal conta de e-mail foi desativada em 11
de dezembro de 2003 [clique
aqui para ver a carta
, em PDF]. Portanto, é impossível que, de tal endereço,
tenha partido a mensagem reproduzida por CartaCapital.


Estou tomando todas as providências jurídicas para que, de um lado, se
instaure o inquérito policial a fim de revelar o autor do crime de falsidade
ideológica; de outro, para que a revista CartaCapital responda pelo crime
de difamação, elaborado a partir de um documento falso, cuja autenticidade a
revista sequer se deu ao trabalho de checar, uma vez que não fui procurado.


A pergunta que resta é: a quem interessa desqualificar uma reportagem que,
para quase toda a imprensa brasileira, pareceu tão relevante?

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Editor de economia das revistas IstoÉ Dinheiro e Dinheiro Rural