Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Erro e silêncio, erro e retratação

Assim fica difícil.

Ontem, o Estado informou que a ministra Marina da Silva, do Meio Ambiente, aprovou um ‘manifesto’ (no título) ou uma ‘manifestação’ (no corpo da matéria) do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) protestando contra as acusações do presidente Lula aos ambientalistas de travar o desenvolvimento do país.

O texto, ‘aplaudido e assinado pelos conselheiros’, segundo o jornal, fala em preocupação e indignação com as afirmações do presidente.

Palavras da maior gravidade, em suma, que justificariam a renúncia ou a demissão da ministra. E hoje, de fato, a Folha noticia na coluna Painel que ‘a coisa anda feia’ para Marina. E mais:

‘Na Esplanada [dos Ministérios], aposta-se que haverá troco para o documento em que o Conselho Nacional do Meio Ambiente, presidido pela ministra manifesta ‘indignação’ diante dos comentários feitos por Lula sobre os entraves ao crescimento.’

Aí entra o porém. Em carta que o Estado publica hoje, sob o tituleto ‘Esclarecimentos’, o secretário-executivo do Conama e do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio Langone, diz não ser verdadeira a matéria da véspera:

‘Na reunião do Conama realizada quarta-feira, um de seus conselheiros, usando do direito à palavra que qualquer colegiado confere a seus integrantes, leu uma manifestação que não foi submetida à votação pelo plenário do conselho. O conselheiro apenas informou que o texto estaria à disposição de quem, individualmente, quisesse assiná-lo. Portanto, não pode ser atribuída nem à ministra, nem ao Conama, qualquer manifestação ou concordância com o teor do texto lido em plenário, como sugere a manchete da matéria.’

Não se segue nenhuma Nota da Redação, ou contestando a versão do secretário, ou assumindo o erro do jornal.

Bem diferente, a propósito, foi a reação do jornal a outra carta, bem mais extensa, na quarta-feira. Nela, o empresário Luiz Antonio Chemin contesta matéria publicada dois dias antes, segundo a qual a sua fazenda em Ilhabela é uma ocupação ilegal de terras e além disso fica dentro do Parque Estadual da ilha, área de preservação da Mata Atlântica.

No final, Chemin diz acreditar que ‘um jornal da respeitabilidade do Estado adotará todas as providências cabíveis para sanar tantos equívocos da malfadada reportagem, restabelecendo a verdade dos fatos’.

Nesse caso, o jornal se desculpou e informou que antes de receber a carta ‘as providências cabíveis já começaram a ser tomadas’.

Fim da história? Ainda não. Ontem, o Estado simplesmente refez a matéria original, sob o título de página inteira, ‘Fazenda de Ilhabela está em situação legal’ e o sub-título ‘Propriedade privada não está nos limites do Parque Estadual, ao contrário do publicado pelo Estado segunda-feira’.

Segue-se o texto: ‘Ao contrário do que afirmou reportagem de capa do caderno Metrópole, publicada na edição da segunda-feira passada’ etc etc.

Bem que o jornal poderia noticiar amanhã: ‘Marina não aprovou manifesto contra declaração de Lula’, seguindo-se um texto: ‘Ao contrário do que afirmou reportagem da seção Nacional, publicada na edição da quinta-feira passada’…

Se não para fazer justiça à ministra e mostrar respeito ao leitor, pelo menos por uma questão de coerência.

Em tempo: e como fica o Painel da Folha?

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