Tempos de coincidências reveladoras. Na semana passada, nenhum jornalista político que valha o seu sal pode ter deixado passar em branco a co-incidência de dois fatos, um deles puxando o tapete de outro – a denúncia do procurador-geral da República contra 15 envolvidos no mensalão tucano em plena festa da convenção do PSDB.
Agora é a descoberta de um episódio-síntese do horror concentracionário das prisões brasileiras, ante a indiferença geral, escarnecendo da promoção do Brasil ao 70º e último lugar entre os países classificados pela ONU como de “alto desenvolvimento humano”.
O ranking é formado com base nas informações de cada país sobre a sua situação em matéria de expectativa de vida ao nascer, matrículas nos três níveis de ensino e PIB por habitante.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nasceu da gritante constatação de que não basta a um país ser rico. A qualidade de vida de sua população diz tanto ou mais do seu desenvolvimento do que a evolução do produto interno bruto.
Além disso, a pesquisa periódica é feita para dar aos povos, em forma de números, armas para pressionarem os governos por mais saúde, mais educação e mais participação na riqueza nacional.
Mas diante da tragédia de L.A.B., a garota mantida presa durante 24 dias para servir à alcatéia das cadeias paraenses, a expressão “alto desenvolvimento humano” é de chorar.
Qualquer um, em 5 minutos, é capaz de arrolar características sub-sub-desenvolvidas da vida brasileira, que autorizam perguntar: mas de que desenvolvimento humano estamos falando?
Índice de mortandade no trânsito é uma delas. A criminalidade dos não-criminosos profissionais (para não falar da outra), com o linchamento de prostitutas e a incineração de mendigos, por exemplo, é outra. A caricatura de Justiça é mais uma. E por aí.
É “o caso Brasil”, em suma. A expressão, uma sacada lancinante, saiu ontem da boca do secretário de Direitos Humanos do governo federal, o valoroso ministro Paulo Vanucchi.
Ele ligou duas coisas que não se sabe até quando continuarão indissociáveis no mundo dos símbolos – o nome do país e o sobrenome – que aparentemente nenhum jornalista conhecia, ou se conhecia bobeou – da menina que virou carniça na cadeia de Abaetetuba. O sobrenome é Brasil.
Por mim, de agora em diante, toda reportagem, artigo e editorial sobre a monstruosidade deveria chamá-la de “caso Brasil”.