Existe farto material para quem gosta de especular sobre o futuro da política brasileira. Sucessão de Lula em 2010. Marta, Serra, Aécio, Ciro Gomes, um candidato do PMDB nessa mesma eleição. Terceiro mandato não sucessivo para Lula em 2014. O que vai fazer o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na eleição do sucessor do sucessor de Lula, caso esse não se candidate à reeleição em 2014: ele informa que não pretende se candidatar daqui a sete anos, mas ser vice de Lula para sair ele mesmo, Campos, candidato à presidência em 2018!
Parece piada, mas não é. Quem vai governar o Brasil – e os estados – nessas datas nem tão longínquas já está na política hoje. A menos que ocorram cataclismos, o ritmo é esse mesmo. Ninguém acumula trunfos dessa dimensão de uma hora para outra. É claro que, como se costuma dizer, muita água ainda vai rolar embaixo da ponte antes mesmo da próxima data do calendário eleitoral, 2008. Só vai. Mas ninguém, ou quase ninguém, brota na política nacional ou estadual do dia para a noite.
É só recapitular. Tancredo Neves, eleito em 1985 para fazer a transição da ditadura para a democracia, entrou na política 50 anos antes. Sarney, que assumiu em seu lugar, era vinte anos mais moço. Havia entrado na política 30 anos antes. Collor é uma exceção, e parece que o resultado não foi dos melhores: entrou na política dez anos antes de ganhar a eleição para a presidência, como prefeito nomeado de Maceió. Itamar começou 30 anos antes de ser vice de Collor. Fernando Henrique era próximo do Partidão, o PCB, na década de 1950. Foi cassado em 1964. Carreira política propriamente dita ele começou em 1978, eleito senador. Quinze anos antes de virar ministro de Itamar, lançar o Plano Real e conquistar a presidência. Lula foi eleito para o sindicato pela primeira vez quase 40 anos antes de conquistar a presidência. Disputou o governo de São Paulo em 1982.
Isso dito, a Época desta semana levanta a bola do governador da Bahia, Jacques Wagner, em simpática reportagem: “O sucessor de Lula?”. Tudo muito bem, tudo muito bom. Wagner é mesmo um bom sujeito. A reportagem sobe e desce, vai e vem, mas só não toca num ponto que, aos olhos de qualquer observador minimamente exigente, seria a pedra de toque de qualquer avaliação das possibilidades de Wagner: sua administração na Bahia. São oito colunas de texto denso. Falam de cigarrilha de Lula, camisaria chique, barba aparada, plástica no rosto devido a um grave acidente, guarda-roupa, passagem pelo governo federal, trajetória comunista na juventude, generosidade. Tudo muito interessante. Mas as únicas menções ao governo de Wagner – função para a qual ele foi eleito pelo povo baiano em memorável virada contra o “carlismo” – são as seguintes:
“No governo baiano, uma equipe é encarregada de tocar o dia-a-dia da administração”.
“O estado reúne o maior número de beneficiados pelo programa Bolsa-Famíllia – 1,5 milhão de atendidos” (licença poética, aqui neste texto, porque o programa é federal).
“Em sua mensagem à Assembléia Legislativa neste ano, Wagner disse que a Bahia precisa investir em ciência e tecnologia para aproveitar as oportunidades oferecidas pela economia global”.
Se isso basta para apresentar um pretendente à presidência da República, convenhamos: estamos mergulhados até o pescoço no reino da videopolítica. Talvez fosse melhor votar nos marqueteiros, não nos candidatos.