Ajudada pelo toque de recolher, atentados diários, museus destruídos e teatros fechados, a televisão desponta como opção predominante de lazer e cultura no Iraque. Os telespectadores, que na época de Saddam Hussein tinham que optar por apenas três canais estatais, passaram a ter numerosos canais disponíveis por satélite após a invasão americana. Também surgiram novas emissoras locais privadas, com programas muito mais atraentes que os discursos do ex-ditador e as novelas de baixo orçamento com temas nacionalistas que preponderavam na programação antes da guerra.
O fim da censura trouxe à tona artistas antes reprimidos. ‘Agora podemos mostrar nosso talento ao Iraque e a todo o mundo árabe’, comemora o humorista Majid Yassin, considerado uma espécie de Jim Carrey iraquiano. Ele faz piadas sobre os soldados americanos e os regulares apagões que afetam Bagdá, entre outros assuntos do cotidiano. Mas admite que algumas coisas seguem proibidas. Com os insurgentes não se brinca: ‘Como não tenho quem me proteja, não falo sobre eles’.
Yassin confirma que a violência nas ruas serve de estímulo para que as pessoas assistam à TV. ‘Vá ao teatro e alguém pode atirar uma granada’, lamenta. As salas privadas fecharam por falta de dinheiro. O Teatro Nacional, que conta com subsídio do governo, apresenta peças entre as 11h e as 15h, mas público e elenco têm de ser revistados antes de cada espetáculo. Segundo reporta Rory Carroll, do Guardian [22/6/05], de 26 peças montadas recentemente, apenas 6 tratavam de temas contemporâneos, claro sinal de que os autores querem evitar controvérsias, por temerem represálias.
Assim, resta ao público deleitar-se com seriados cômicos egípcios ou o maior sucesso de todos, a novela Amor e Guerra, da rede local al-Sharqiya, cuja segunda temporada acaba de terminar. No último capítulo, o casal protagonista morreu num atentado cometido por um suicida quando estava em lua-de-mel. Ainda assim, os telespectadores exigem uma terceira temporada.