Com a imprensa compreensivelmente entalada na cobertura da crise da corrupção, é um alívio encontrar uma matéria original, que tem a ver com as servidões da política, mas muito mais com a atuação autônoma de um setor da população em torno de bandeiras ligadas ao seu cotidiano.
A matéria tem o título “Manifestantes do passe livre não aderem ao ato da UNE, leva a assinatura de Vanessa Jurgenfeld, de Florianópolis e ocupa um terço de página da edição de hoje do jornal Valor.
Vale a pena ler, apesar do trecho que diz que um dos personagens da história “vive frustração com o posicionamento que vivenciou…” Vixe.
Os manifestantes do título são do Movimento Passe Livre, segundo a repórter a “mais importante mobilização social de jovens surgidas nos últimos anos”. Naturalmente, é um movimento político, de esquerda, mas não partidário.
Ou, conforme o texto, “corre por fora dos vínculos institucionais da política partidária e é crítico das entidades tradicionais de representação estudantil”, que se dividem entre o apoio e a oposição ao governo Lula.
Por isso, não vai participar da manifestação convocada pela UNE e UBE para o próximo dia 16, em Brasília, com todo mundo vestido de branco, em defesa da ética – em defesa do presidente, para ser mais exato. Na sexta-feira, Lula recebeu em palácio o líder da UNE, Gustavo Petta. Disse-lhe que podem cavar à vontade que não encontrarão nada contra ele.
O problema é que, sem cavar muito fundo, encontram-se coisas suspeitas de serem contra o seu ex-ministro José Dirceu, que dizia que não faz nada que o presidente não tenha mandado ou à revelia dele. Mas essa é outra história.
Os catarinas conhecem melhor do que os demais brasileiros a história do Passe Livre. Ela começou com um afinal bem-sucedido movimento contra o aumento de tarifas de ônibus em Florianópolis. A reportagem diz que a organização – se é que a palavra se aplica no caso — já se propagou por 29 cidades.
Como seus similares em muitos outros países, os passes-livres se articulam mediante o que há de mais moderno em matéria de comunicação – a internet, em computadores e celulares. Filmam em video e põem na rede as suas próprias manifestações: a propaganda pela ação.
Ao que parece, a cabeça do pessoal está mais voltada para os problemas urbanos, como o que lhe deu origem, do que para a grande política nacional. Bem dizia o doutor Ulysses Guimarães que a única realidade política tangível não é a União, nem os Estados, mas o município onde se vive.
Os passes-livres começaram a subir na vida quando conseguiram baixar de R$ 1,75 para o R$ 1,60 antes em vigor o preço da passagem mais barata de ônibus em Floripa. O movimento “mostrou que é possível a sociedade se unir e conseguir mudar”, comenta na matéria a socióloga Dalva Brum, da Universidade Federal catarinense.
Alguém duvida de que aí está um bom pedaço do futuro eleitorado dos sonhos do P-Sol?