Estamos mal no ranking global de acessos à internet segundo os dados da pesquisa divulgada há dias pela seção nacional do Comitê Gestor da rede mundial de computadores. Estamos na incômoda sexagésima quarta posição, junto com o México e bem atrás dos vizinhos Uruguai, Argentina e Chile. Perdemos até para a Costa Rica, na América Central. Mais da metade dos brasileiros (54,79) nunca usou computador e 67,76% jamais entrou na internet. Os dados impressionam mas não chegam a ser dramáticos no contexto mundial, porque a exclusão digital é uma norma, até mesmo nos Estados Unidos, que está apenas no décimo lugar no ranking de acessos à internet. O verdadeiro significado da desigualdade digital não está tanto nos números e estatísticas mas no processo de transição para a sociedade da informação. A redução do número dos sem internet é condição indispensável para que a economia digital funcione no país, porque a lógica do sistema mudou. Para que as empresas funcionem no ambiente virtual elas tem que obrigatoriamente contar com sistemas de certificação de confiabilidade em parceiros e intermediários. Estes sistemas já existem e tem uma lógica: quanto mais gente emitir opiniões mais confiável é a avaliação de reputações, como provam os casos do eBay e do Submarino. O caso da certificação de credibilidade é apenas um dos elementos que compoem a nova lógica da internet, onde a inclusão é essencial. Outro é o da inovação através de sistemas de código aberto onde quanto maior o número de participantes opinando e colaborando, maior a criatividade coletiva, uma exigência que passou a ser crítica na era digital onde o sistema só funciona se for alimentado pelo lançamento contínuo de novas idéias, serviços e produtos. Até no jornalismo a inclusão digital passa a ser fundamental porque a tendência é a valorização do noticiário local e hiperlocal através da contribuição de leitores/repórteres. Quando mais colaborações, mais diversificado e atraente ficará a página noticiosa e consequentemente maior a sua clientela. Mas se existe uma lógica da inclusão na internet porque a desigualdade digital não diminui no Brasil e no mundo
No primeiro caso, a exclusão está imbutida no sistema que não funciona sem ela. No segundo, ocorre o contrário, ou seja a inclusão é o motor da inovação e criatividade. Quanto mais pessoas participarem do processo, maior o seu dinamismo e portanto maiores os resultados a serem distribuidos.
É importante ressaltar que a lógica da inclusão na nova economia não significa que ela caminhará para a eliminação da desigualdade. A única diferença é que enquanto no capitalismo clássico, a tendência é o aumento das diferenças entre os com e sem computadores, na era digital diferença diminuirá, sem desaparecer por completo.
Ausência: Entre os dias 29/11 e 3/12, estarei em Santiago do Chile participando de um colóquio internacional sobre exclusão digital organizado pela Universidade do Chile e patrocinado pelo governo da França.
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