Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um editorial de entrar para a história

No artigo “Magnata vira notícia no jornal que quer comprar”, de quinta-feira passada, comentei uma raridade jornalística – algo que jamais se leu e tão cedo não se lerá por aqui em circunstâncias semelhantes: a reportagem do Wall Street Journal sobre o abominável magnata da mídia Rupert Murdoch, que ofereceu US$ 5 bilhões pela empresa que o publica. [Está em http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id=
{287E1130-1D5E-4085-8625-8E3F51B59881}&id_blog=3
]


Hoje, relacionado com o mesmo assunto, outro fato provavelmente único na imprensa de qualquer país: o editorial do New York Times “Mr. Murdoch e o Journal”, torcendo com todas as letras para que o negócio não se consuma. De tirar o chapéu pela franqueza.


Já imaginaram a Folha, o Globo ou o Estado saindo com um editorial contra a venda do Jornal do Brasil ao empresário Nelson Tanure?


Os principais trechos da raridade que já garantiu lugar na história do jornalismo:

“Páginas editoriais geralmente não saúdam a concorrência, mas hoje escrevemos em louvor do Wall Street Journal. O Journal, a jóia da coroa da companhia Dow Jones, produz um jornalismo equilibrado e confiável, leitura obrigatória para dirigentes empresariais e líderes políticos do mundo inteiro. A questão é se essa operação noticiosa sobreviverá se Rupert Murdoch persuadir a família Bancroft a vender a Dow Jones e, portanto, o Journal.


Francamente, esperamos que os Bancrofts encontrem uma forma de continuar produzindo o seu belo jornal. Ou, caso contrário, que encontrem um comprador que seja uma alternativa mais segura para proteger o jornal em benefício dos seus leitores.Para registro, muitos de nós que ainda trabalhamos para um jornal controlado por uma família, como o Times, lamentamos que outras organizações jornalísticas percam a proteção diante de correntes políticas e demandas desenfreadas por lucros trimestrais.


Quando a cultura empresarial sem rebuços assume o comando, a história mostra que operações noticiosas caras e trabalhadas não florescem. Quando a cobertura do Iraque ou do Afeganistão, ou da política nacional e local, é drasticamente cortada, um jornal começa a ficar parecido com o resto – um espaço informativo cada vez menor, preenchido por despachos de agências noticiosas e press-releases.


Um exemplo particularmente excelente do que está em jogo apareceu na primeira página do Journal na terça-feira passada, uma avaliação poderosa da trêmula gestão dos órgãos noticiosos do seu império. [Justamente a matéria tratada neste blog.] A reportagem documentou as vezes em que Mr. Murdoch não cumpriu suas promessas de garantir a independência jornalística das suas propriedades midiáticas.


Seria Mr. Murdoch capaz de tolerar tão franco e competente jornalismo? Se não for, os Bancrofts não estarão apenas embolsando o valor do negócio da família; eles estarão pondo em perigo um dos melhores jornais do mundo. Mr. Murdoch prometeu não apequenar o Journal. Ao mesmo tempo, reconhece que, como veterano homem de imprensa, gosta de se intrometer nos seus empreendimentos jornalísticos, que incluem o New York Post e a Fox News Network.


Esperemos que ele se lembre de que o respeito do Journal pelos seus leitores e a confiança dos leitores no Journal se entrelaçam. Perca um e você perderá a outra.’


[A íntegra do editorial está em http://www.nytimes.com/2007/06/10/opinion/
10sun2.html?th=&emc=th&pagewanted=print
]



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