Quando o ex-presidente Fernando Henrique desce do palanque, tira o soco-inglês e veste a beca de cientista social, é capaz de dizer coisas que não se devem esquecer.
Ontem, numa conferência internacional em São Paulo, ele chamou a atenção para as crescentes dificuldades das instituições políticas para dar respostas mais ágeis às demandas sociais.
O problema não é só a natureza das demandas, mas a velocidade como se estruturam, se disseminam e – nesse processo – se fortalecem.
A causa, naturalmente, é a internet. A web é a ágora (praça pública) dos gregos antigos, onde foi concebida a democracia. A nova praça fica nos sites, nos blogs e nos e-mails [palavras minhas, não de FH].
Para ele, como o sistema político não consegue reagir com a velocidade proporcionada pela internet, as pessoas tendem a achar que os governos não dão conta do recado.
Isso, acrescento, pode valer tanto no Novo Mundo de que o Brasil faz parte como na Velha Europa. O esporte de falar mal dos políticos, tão popular como o futebol, ficou ainda mais atraente.
”Cria-se”, disse FH, “um vazio entre os sentimentos do povo e as esferas do poder”, o que pode gerar crises de legitimidade.
Faltou, talvez, dizer o seguinte:
1. Não é porque as demandas transitam e se adensam mais depressa que se tornam, necessariamente, mais legítimas. Não falta na internet, por exemplo, quem pregue a pena de morte.
2. Não é porque basta um clique de mouse, como se diz, para fazê-las viajar, que governantes e legisladores podem – ou mesmo devem – atendê-las no mesmo ritmo. É certo que o poder precisa correr atrás de um prejuízo que antecede à explosão da internet. Mas não existe essa coisa de democracia instantânea. Ela seria tão perigosa quanto uma Justiça sumária.
Mudando de assunto (1):
O que você prefere ler? Quase uma página de jornal sobre o bate-boca de tucanos e petistas no Senado, na base do “você é ladrão”, “ladrão é você”, por assim dizer (no Estado de hoje), ou quase uma página de matéria pesquisada, mostrando que “FHC e PT usam dados parciais em disputa sobre a economia” (na Folha de hoje)?
Mudando de assunto (2):
Para dar o troco aos que invocam a liberdade de imprensa como justificativa para a publicação das charges xenofóbicas contra os muçulmanos [ver meu artigo “Mensagem infame: todo muçulmano é terrorista”, no Observatório da Imprensa (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=366IMQ007)], o mais lido jornal iraniano, Hamshahiri, lançou um obsceno concurso de charges sobre o Holocausto.
Como se as charges que enfureceram o Islã tivessem saído em um jornal israelense e não em um jornal da cristã Dinamarca. Quando se é racista – no caso, anti-semita – todo pretexto serve. Ou, conforme o ditado, quando você tem um martelo, tudo parece prego.
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