A Web ainda é uma grande caixa preta em matéria de sustentabilidade de projetos jornalísticos independentes. Que o diga o jornal online NoMínimo, que no início de junho avisou os seus leitores que poderá perder a atualização diária em conseqüência da necessidade de reduzir custos, pela perda de patrocinadores.
Trata-se do mesmo dilema que vem tirando o sono tanto dos grandes impérios jornalísticos como de projetos independentes como o NoMínimo, cujos editores se auto-definiram como uma espécie de “quilombo” jornalístico em plena era da informação quântica.
Dilema que pode ser definido numa equação primária: o jornal impresso está perdendo público mas ainda é muito mais rentável do que as versões online, que a cada dia tem mais usuários mas só conseguem sustentabilidade econômica quando vinculadas à grandes conglomerados jornalísticos.
No fundo, a informação impressa subvenciona a online, mas esta atrai mais publico que a versão em papel. Este esquema vigora aqui no Brasil, como mostram os casos dos grandes jornalões do eixo Rio-São Paulo-Brasilia-Belo Horizonte. E também nos Estados Unidos e na Europa.
Para as corporações jornalísticas trata-se de uma convivência turbulenta entre duas formas de publicar informações. O chamado “povo da tinta e do papel” e os “nerds” da era digital ainda não conseguem conviver pacificamente nas redações unificadas para atender à exigência dos acionistas para enxugar custos.
Nem os especialistas em marketing e publicidade conseguem resolver o dilema criado pela migração de anúncios para as versões online sem que o faturamento publicitário cresça na mesma medida. A internet representa atualmente míseros 2,07% da verba destinada pelos anunciantes a toda imprensa. Com este percentual ninguém sobrevive, o que é agravado pelo fato dos leitores online não aceitarem pagar pelas notícias.
Já para os projetos independentes baseados exclusivamente na internet, a situação mostra dilemas diferentes, mas não menos complexos e desafiadores. Iniciativas como o NoMínimo, e muitas outras, inclusive o Observatório da Imprensa, dependem de um complicado malabarismo financeiro para remunerar minimamente os seus colaboradores o que os obriga a depender de patrocinadores e financiadores.
Os custos operacionais de um jornal online são desprezíveis se comparadas aos da pesada máquina de produção e distribuição de um jornal impresso. O orçamento de um site jornalístico independente é ridiculamente pequeno e os escassos recursos são quase todos destinados à manutenção do seu ativo mais importante e valorizado, a massa cinzenta dos seus colaboradores.
As 24 assinaturas que formam o valorizado portfolio de profissionais do NoMínimo valem tranqüilamente quase 10 vezes mais num jornalão. Mas a independência e autonomia cobram um custo alto para quem opta por ambas: a remuneração mínima. Mas nem isto tem sido uma garantia de sobrevivência.
Os projetos independentes na Web dependem da valorização do conteúdo informativo enquanto os patrocinadores olham apenas o retorno financeiro. No mundo online é dificílimo compatibilizar os dois lados. São duas lógicas opostas. A sobrevivência torna-se uma arte extremamente sutil e delicada.
O NoMínimo mostrou-se um exímio malabarista na arte da sobrevivência online porque, depois de surgir, em 2000, com o título Notícias e Opinião (NO) , teve que mudar radicalmente de estrutura para superar as ondas de choque da implosão da bolha especulativa na internet na virada do século. Até o nome teve que se adaptar aos novos tempos duros e difíceis, recebendo o adjetivo mínimo, em 2002.
Os jornalistas estão vivendo um traumático período de transição. Estamos passando de uma estrutura baseada em grandes redações, emprego fixo, informação cara e um público elitizado, para uma era de profissionais autônomos, micro redações, notícia grátis e uma democratização no acesso, que mesmo reduzida a apenas 20% da população nacional, assusta pelo seu ímpeto questionador.
A gente torce para que os nossos colegas do NoMínimo consigam, mais uma vez, driblar as dificuldades financeiras da mesma forma que a agência online Carta Maior logrou superar, há pouco, uma ameaça concreta de fechamento, também por problemas com patrocinadores.
A grande pergunta que fica no ar é: Existe uma solução para tudo isto? A fórmula salvadora ainda não foi encontrada. Tudo indica que ela vai aparecer, mas é impossível saber quando e como, pois a transição para a era digital na imprensa ainda está demasiado carregada de incógnitas e caixas pretas.