Das duas, uma: ou o Jornal Nacional comprou gato por lebre – e repassou para os telespectadores ; ou os jornais acharam desimportante o novo desdobramento do caso da ‘doação’ de várias centenas de vestidos (de 300 a 400, o número varia de jornal para jornal) para Lu Alckmin, mulher do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, candidato ao PSDB à Presidência da República.
Ontem à noite, ao final da reportagem do Jornal Nacional sobre a última sondagem do DataFolha sobre a disputa à Presidência, William Bonner emendou:
‘Hoje, o corregedor da Assembléia Legislativa de São Paulo, deputado Romeu Tuma Júnior, do PMDB, denunciou à polícia que o escritório dele foi arrombado de madrugada e que desapareceram documentos sobre a doação de vestidos de um estilista para ex-primeira dama, Lu Alckmin, mulher de Geraldo Alckmin’.
Hoje, nos jornalões, nem uma palavra sobre a denúncia do deputado que não pode ser propriamente enquadrado no perfil de ‘petistóide’, neologismo criado ontem por Alckmin para rebater as denúncias sobre os presentes e sobre favorecimento na distribuição publicitária da Nossa Caixa.
Nos portais das agências dos jornais, apenas a Folha Online trouxe reportagem paralela, sem mencionar a denúncia do corregedor da Assembléia, às 17h12, no texto ‘Bancários pedem CPI da Nossa Caixa’, assinada por Fausto Salvadori Filho. Nas demais fontes da Internet, nada nos blogs ligados aos grandes jornais, nada na Agência Estado, nada no JB Online.
A ausência da notícia, que, a ser confirmada, reforça o estilo quadrilheiro dos maiores partidos do país, abre para a possibilidade de pelo menos três explicações, para as quais se antecipam os contra-argumentos:
Explicação 1: A notícia não está nos jornais de hoje porque eles ficaram sabendo do arrombamento pela televisão tarde demais, apesar de terem plantonistas na Assembléia Legislativa, iniviabilizando sua inclusão.
Contra-argumento: Não cola. Os jornais esticam seu fechamento da redação até meia-noite, por exemplo, nas noites em que há de futebol e nas coberturas de eventos políticos importantes em Brasília.
Explicação 2: A fonte não é confiável, apesar de ser corregedor da Assembléia.
Contra-argumento: Também não liga. O mesmo deputado, corinthiano doente, sustentou o noticiário esportivo durante meses nas denúncias contra a parceria de seu time com a MSI, que é a atual dona do futebol profissional do Corinthians. Nesse período, teve todo o crédito.
Explicação 3: O deputado é suspeito porque é autor da proposta de abertura de CPI que quer investigar os negócios da Nossa Caixa e sua denúncia, portanto, não passa de jogada política com segundas, terceiras e quartas intenções.
Contra-argumento: No ano passado, a deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) denunciou assédio para mudar de partido em troca de R$ 30 mil mensais e luvas de R$ 1 milhão, que lhe teriam sido oferecidos por Sandro Mabel (PL-GO). Também tinha outras intenções – e foi processada por denunciar sem provas. Ao depor no Conselho de Ética, justificou que não trouxe a denúncia a público justamente por não ter provas. Mabel foi inocentado por unanimidade no Conselho justamente por falta de provas. Raquel Teixeira não foi incomodada pela denúncia vazia.