Depois das muitas garantias do ministro de Comunicação Social Franklin Martins sobre a isenção política da Rede Pública de Televisão que o governo está tecendo – a começar da sua rica entrevista à Folha, comentada aqui em 16 de abril[http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id=
{1B51A4B0-B3C1-416C-A05E-3EB1A53C45FE}&id_blog=3] – ontem foi a vez de o presidente Lula reforçar a promessa de que ela não será ‘chapa-branca’. Ou, gastando o adjetivo da semana, será ‘laica’.
Se não por convicção, por realismo. ‘Não adianta fazer uma coisa para falar bem do presidente, porque não dura três meses’, previu, na mosca.
A promessa veio junto com a informação de que a criação da rede já se tornou irreversível. Ou, nas suas palavras, ‘pegou no breu’.
A expressão se aplica às demais afirmações do presidente sobre a indigência da televisão comercial brasileira. Ele reclamou, notadamente, do deserto de idéias das emissoras abertas nacionais.
Salvo as exceções que mencionou – os programas Canal Livre, da Bandeirantes, e Roda Viva, da Cultura – de fato a TV abandonou por completo o pouco que teve no passado em matéria de debates sobre temas de ordem geral [diferentemente, por exemplo, do Observatório na TV, cujo foco é a mídia].
Lula citou assuntos de interesse da sociedade que os canais comerciais não aprofundam mesmo quando entram na sua pauta, empurrados pelo caráter jornalístico dos fatos que lhes dizem respeito: aborto, células-tronco, energia nuclear, biodiesel.
Podia ter falado de outros, como aquecimento global, segurança, crise das cidades, qualidade do ensino, cotas raciais, alimentos transgênicos… Mas isso é o de menos. De mais é a sua concepção do papel da mídia eletrônica não atrelada nem à publicidade – que é o que determina, em última análise, o seu conteúdo – nem aos governantes de turno.
‘A nossa TV respeitará tudo e todos’, assegurou. Tomara que assim seja, porque não basta a televisão pública tratar de questões praticamente ignoradas pelas redes abertas. Se não ela não se limitar aos temas cuja presença na mídia pode convir ao governo, e se ela não os tratar de modo a incentivar a diversidade de opiniões, o resultado tenderá a ser a proverbial emenda pior do que o soneto.
Do ponto de vista da ampliação do debate público, em termos de agendas e participantes, a desinformação tende a ser mais adversa do que a ausência pura e simples de informação.
Para fazer a coisa certa, a TV pública que vem aí não precisa ser nenhuma BBC – embora esse ainda seja o melhor modelo no setor. Já será uma glória se for uma PBS [Public Broadcasting System], a rede americana do gênero, cujo principal jornalista, Jim Lehrer, leva a sua preocupação com a imparcialidade tão longe, mas tão longe, que não se permite nem votar para presidente de seu país.
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