Em dezembro de 2004 a revista Exame publicou uma denúncia contra deputados que se haviam especializado em ‘infernizar a vida de empresários e executivos de grandes companhias’. ‘Composta por cerca de dez deputados, a maioria eleita em São Paulo e no Rio de Janeiro por cinco partidos diferentes, essa bancada tem mostrado um apetite insaciável por informação a respeito de algumas das mais importantes empresas do país. Convocar seus representantes para prestar esclarecimentos sobre o dia-a-dia dos negócios tornou-se uma verdadeira obsessão desses parlamentares. Um dos mais destacados membros da bancada, o deputado Celso Russomanno, do PP de São Paulo, realizou nada menos que 96 requerimentos, convocando empresas de dez setores para cobrar esclarecimentos. Seu colega Eduardo Cunha (PMDB-RJ) encaminhou outros 62 requerimentos. Nelson Bornier, também do PMDB do Rio de Janeiro, apresentou 32 requerimentos’.
Tenha paciência, leitor, para uma longa citação. Mas vale a pena.
‘Aos representantes das empresas, pergunta-se de tudo – dados contábeis, procedimentos tributários, segredos industriais e nomes de executivos encontráveis na internet -, ainda que não fique claro, na imensa maioria dos casos, exatamente o que buscam os deputados em sua ânsia investigativa. As dúvidas quanto ao método e às intenções da bancada fizeram com que a Câmara dos Deputados abrisse três sindicâncias para apurar a conduta dos parlamentares, tamanha a agressividade demonstrada contra as empresas. <<É importante que a Câmara apure todas as denúncias de chantagem, extorsão ou abusos para que não pairem dúvidas sobre a atuação de todos os deputados>>, diz o deputado João Paulo Cunha, presidente da Câmara. << Se houver qualquer irregularidade, que esse parlamentar seja rigorosamente punido
Ao longo das últimas semanas, a reportagem de EXAME pesquisou a atuação da <<bancada dos fiscais>
É claro que fiscalizar empresas faz parte do trabalho do Congresso, tanto aqui como em qualquer país. O que não parece razoável é ter tantas dúvidas sobre tantas empresas o tempo todo. Essa forma de fiscalizar causa muita apreensão nos meios políticos e empresariais quanto a possíveis exageros ou mesmo abuso de poder por parte de deputados. Isso tem sido observado principalmente durante os trabalhos das CPIs, uma vez que elas têm poder de investigação semelhante ao de uma autoridade judicial. Ou seja, enquanto no trabalho cotidiano os deputados podem apenas convidar pessoas ou entidades a comparecer ao Congresso, durante as CPIs a lei garante o poder de << convocar testemunhas para depoimento, se necessário com o uso de meios coercitivos
A reportagem citava ainda Leonardo Picciani (PMDB-RJ), André Luiz (cassado em maio último), Renato Cozzolino (PSC-RJ) e Raquel Teixeira (PSDB-GO), hoje secretária de Ciência e Tecnologia de Goiás. O assunto não foi acompanhado pela mídia. Nem a própria Exame voltou ao tema da reportagem. Nota de 21/9, 8h40: talvez a infausta eleição de Severino Cavalcanti, em fevereiro passado, seja a melhor explicação para esse silêncio. Severino ia lá querer investigar uma ‘bancada dos fiscais’? Lembrar que ele mesmo foi, anos atrás, o corregedor da Câmara…