Prudência deve ser a terceira palavra mais detestada no jornalismo, depois de censura e retratação.
Mas às vezes, em situações escorregadias, paga a pena ser prudente para não dar por líquido e certo, antecipadamente, algo que tem tudo para acontecer, mas de repente não acontece.
Resultado de votação, por exemplo. Jornalistas costumam cobrir decisões eleitorais, esquecendo no fundo da gaveta o ditado “barriga de mulher, cabeça de juiz e urna, nunca se sabe o que tem dentro”.
Daí a traulitada que os fatos deram no Estado, que saiu hoje com a manchete “Referendo aumenta poderes de Chávez” e com um sub-título onde se lê que ele “terá direito de tentar a reeleição quantas vezes quiser”.
Ou seja, agarrado às três pesquisas de boca-de-urna que davam a vitória do sim no referendo venezuelano, o jornal apostou as calças nesse desfecho.
No meio da noite, deu não – um resultado “atordoante”, anunciou lá pela 1:30 da manhã, hora local, o New York Times.
No Brasil, sensata foi a Folha, com “Boca-de-urna dá vitória a Chávez em referendo” e “Vice-presidente, porém, admite disputa apertada em votação que pode instituir reeleições sem limite”.
Mas a palma da manchete do dia vai para o Globo, que não teve medo de parecer tímido:
“Resultado apertado põe a Venezuela em alerta”. E ainda, no sub, “Apuração inicial contradiz boca-de-urna que dava vitória a Chávez”.
P.S. E por falar em Globo, a especialidade da casa – séries de reportagens – continua no ponto. A que começou ontem, “Dimenor”, pelos números aparentemente impossíveis que conseguiu garimpar, é de aplaudir em cena aberta.