Encerrada a greve de fome do bispo dom Luiz Flávio Cappio contra o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco elaborado pelo governo, cabe à mídia dar uma contribuição para um amplo debate sobre o tema.
A falta de atenção da imprensa, desde muito antes da eclosão da crise do “mensalão”, foi um dos fatores que criaram o contexto no qual o bispo fez seu protesto.
A Rede Globo preparou em abril uma reportagem sobre o São Francisco que foi exibida em cinco capítulos na semana passada. No última dia da série, em lugar de uma abordagem isenta, apareceu uma peça muito favorável ao projeto do governo, dando-o como fato consumado, embora a terceira reportagem tenha mostrado claramente que a devastação das matas ciliares criou problemas muito sérios para o rio, entre eles o assoreamento do leito, que dificulta a navegação.
Fora da Globo, praticamente ninguém tocou no assunto até alguns dias depois do início da greve de fome do bispo dom Cappio. Tardiamente, em meio a uma situação extremamente delicada, a Folha e o Estado de S. Paulo entraram no debate.
Se a primeira proposta de utilização das águas do São Francisco para minorar o problema da seca no semi-árido foi feita em 1847, como escreve Ulisses Capozzoli em http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/
artigos.asp?cod=349OFC001, fica evidente que não se trata de um problema simples. Desafiou gerações de brasileiros. Então, não pode ser tratado de forma sumária.
A mídia deveria ter sido pautada pela importância do projeto, pelo drama dos que sofrem com a falta dágua, pelo peso dos interesses econômicos envolvidos, pela possibilidade de utilização política da obra. Foi pautada pelo protesto extremado do bispo.