Não fossem a Bolívia e a Operação Sanguessuga, decerto os jornais de hoje teriam dado o devido destaque ao discurso do ministro Marco Antonio Mello, do STF, ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral.
Depois do relatório do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, foi a manifestação mais dura de uma autoridade independente sobre o momento nacional.
No que o Valor interpretou, já na primeira linha da matéria a respeito, como ‘um duro recado ao PT e ao governo Lula’, Mello descreveu o que se pode chamar o ‘estado da arte’ da corrupção no Brasil.
Brasil que ele disse ter se transformado em um ‘país do faz-de-conta’.
‘Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam – o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mal tivessem feito’, constatou o ministro.
‘Faz de conta que não foram usadas as mais descaradas falcatruas para desviar milhões de reais, num prejuízo irreversível em País de tantos miseráveis. Faz de conta que tais tipos de abuso não continuam se reproduzindo à plena luz, num desafio cínico à supremacia da lei, cuja observação é tão necessária em momentos conturbados’.
Folha, Estado e Globo registraram que ele não citou nomes – como se pudesse esperar que o fizesse. O Globo pelo menos lembrou que Mello foi mais uma vez fiel ao seu estilo. Medir palavras, de fato, não é bem com ele.
O jornal carioca também foi o único a abordar o ministro sobre o que teria querido dizer. Sua resposta:
‘Meu recado não foi dado ao Planalto, mas a todos que se apresentem como candidatos a cargos políticos. Eu falei o que está entalado na garganta de todos nós.’
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