Diferentemente do que escreveu anteontem o blogueiro Josias de Souza, da Folha de S. Paulo, e o jornal publicou ontem, pelo menos no pé em que está, o projeto do governo mudando a legislação sobre escuta telefônica não prevê prisão para jornalistas que divulgarem o conteúdo de quaisquer grampos telefônicos.
No começo da madrugada de hoje, Josias pôs no seu blog informações recebidas do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Ele confirma o envio ao Congresso em fevereiro do que chamou “um projeto [ainda] em movimento”.
“As coisas estão sendo mexidas por uma equipe aqui do ministério e da Casa Civil”, teria dito o ministro ao blogueiro.
Ele também teria afirmado que deixou o pessoal “trabalhando” no artigo do projeto que dá cadeia para quem revelar conversas grampeadas.
Mas, a crer no Estadão de hoje, o artigo já era. A matéria “Nova regra para grampos deve vir menos rígida” sugere que a versão do projeto divulgada por Josias não é a que está em exame na Casa Civil.
Diz o jornal: “De acordo com fontes do Ministério da Justiça que manusearam a última [o certo seria escrever “a mais recente”] versão”, a idéia anterior “foi abandonada”.
Prova disso foi o virtual enterro do assunto na Folha de hoje. Depois de todo o carnaval da véspera, com editorial furioso e dois artigos assinados na mesma linha, o jornal deu um pirulito [notícia pequena em uma coluna] em um pé de página, sobre a nota em que a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) considera “totalitária” a possibilidade de prisão de jornalistas.
A menos que o governo tenha mudado o projeto depois do aparente furo de Josias – uma hipótese à primeira vista remota – ficamos assim:
O blogueiro errou ao trabalhar em cima de um texto superado a que teve acesso, o jornal em que trabalha errou ao bancá-lo como se fosse definitivo – e nem um nem outro jogaram limpo com o leitor depois de confirmada a barriga.
O jornalismo – entre outros motivos por ser exercido contra o relógio – é uma atividade a que se aplica, talvez mais do que à grande maioria das outras, o ditado de que “errar é humano”.
Mas quando se erra, seja lá por que razão, o certo, o obrigatório, é assumir inequivocamente o erro e pedir desculpas ao leitor.
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