É sabido que quanto mais informado mais sujeito participante será o indivíduo. No entanto, entender e saber filtrar as informações recebidas é indispensável. Nesse contexto, entra em cena a influência dos meios de comunicação no desenvolvimento e na mudança econômica, social, cultural e educacional da sociedade e a presença diária do jornalista como transmissor de sentido. A atividade jornalística e seu produto (a notícia) não devem atender a uma lógica mercantilista das comunicações, característica da sociedade capitalista, sem que os receptores suspeitem da identidade da atividade jornalística como instrumento de dominação, a tratá-los como coisa, a impregnar-lhes conteúdos perniciosos, vulgares e violentos. O que significa dizer que, em função dessa realidade, a maioria das pessoas atravessa a vida sem se dar conta dos verdadeiros fundamentos do caráter dominante dos meios de comunicação ‘mascarados’ como meios de informação.
A imprensa brasileira precisa mudar seu foco. Além de investigar, denunciar situações, o jornalista precisa cobrar soluções das autoridades. Também é importante que as reportagens não sejam meramente descritivas, como geralmente são, mas educativas. O leitor tem necessidade de compreender a realidade que lhe é apresentada, valer-se positivamente daquela situação. E, o mais importante, as matérias precisam sinalizar os direitos do cidadão.
Infelizmente, os únicos direitos em pauta são os do consumidor, enquanto agentes de um sistema que perpetua a lógica consumista, em que o dinheiro trabalha, o capital produz e, conseqüentemente, os meios de comunicação agem (Guareschi,1987:18).
Tal cenário só reforça os valores de nossa sociedade capitalista e consumidora. É fundamental que a mídia reformule seu conteúdo e abra espaço para discutir nossos direitos. Por que não apresentar uma coluna ‘Cidadão’, a tratar dos direitos previstos em nossa Constituição e na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão? Nessa abordagem, a mídia poderia explicar o papel de órgãos públicos e instituições. Só assim a população saberia realmente a quem recorrer quando necessita.
Quanto à questão da violência, tema recorrente na sociedade e na mídia, falta ao jornalista responder a uma das principais perguntas: o porquê da situação. Sabemos que é um problema social, devido, principalmente, à má distribuição de renda. No entanto, raramente essa pergunta é feita pelos jornalistas às nossas autoridades. Na área específica, a da cobertura policial, é preciso que o jornalista pare de fazer tão somente uma ‘ronda policial’. É necessário que sejam analisados globalmente os dados da criminalidade. Uma coisa é informar que 10 indivíduos morreram, outra é ‘amarrar’ esses assassinatos, mostrar como a sociedade está violenta, exemplos de redução de índice de criminalidade etc.
A exploração da ignorância
No Espírito Santo, por exemplo, constantemente os sindicatos denunciam a situação precária na área de segurança pública, mas raramente os jornais as publicam. Quando publicam, o fazem em pequenas notas, no pé da página.
Sabemos que, como toda empresa, as de comunicação também têm interesses econômicos, e por isso deixam muita coisa de lado. Como cidadãos, precisamos ter isso em mente e sempre questionar, duvidar da informação e, o que é mais importante, buscar outras fontes de informação, não ficar preso a uma só televisão, a um só jornal.
E o jornalista deve tentar, mesmo sob a pressão da linha editorial de seu veículo, uma cobertura de fundo mais social, investigando e revelando os porquês, deixando de tratar o leitor como cúmplice da exploração da nossa ignorância.
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Estudante de Jornalismo do Centro Universitário Vila Velha (ES), pesquisador da área de educomunicação