Permitam-me uma nota um pouco mais pessoal do que de costume. Tem sua razão.
Ontem, pela primeira vez em mais tempo do que sou capaz de lembrar, resolvi passar o dia sem ler jornais, aproveitando o domingo fora de casa e da cidade.
Não me entendam mal. A intenção de me proporcionar um passageiro respiro dos periódicos não nasceu do fato de serem o que são como produto jornalistico, mas por serem o que são as notícias que eles não podem deixar de publicar – especialmente sobre o Brasil.
Na soma algébrica dos prós e contras, a imprensa vem cobrindo satisfatoriamente – em muitos casos, mais do que isso – o cotidiano nacional. A culpa não é do mensageiro; as mensagens é que custam cada vez mais a descer.
Mas, a horas tantas, já com o sol baixo, tive a má idéia de descumprir a promessa que me havia feito. Quem mandou?
Folheando o Globo, e ainda com a preocupação de pegar leve comigo mesmo, procurei não me tocar, por exemplo, com a previsível e desalentadora reportagem de Tatiana Farah, Chico Otávio e Isabela Martin sobre os brasileiros que cospem indignação com os políticos e a impunidade dos poderosos, enquanto, no dia-a-dia, não cessam de adotar comportamentos anti-sociais.
A matéria fecha com o desabafo registrado em pleno Riquistão brasileiro, a grifada Rua Oscar Freire, em São Paulo. ‘Este país é uma vergonha, O símbolo disso é o Senado’, explode uma certa Stella Smith de Vasconcelos, designer de moda – com o carro sossegadamente parado em fila dupla.
Mas o que mandou meu domingo para o espaço foi, páginas adiante, uma nota na sempre imperdível coluna Ancelmo Gois, justamente onde fui proteger o que me restava do dia. Pois lá me esperava uma sensação de derrota da qual não vou me desfazer tão cedo.
Como todo mundo sabe, o preço do ingresso para o jogo de inauguração do Engenhão entre Botafogo e Fluminense era uma lata de leite em pó. Mas, entrega Ancelmo, ‘uns torcedores espertos trocaram o leite em pó das latas por areia’.
Um leite em pó de 300 gramas custa qualquer coisa entre R$ 4 e R$ 6.
Vocês eu não sei, mas, para mim, o que fizeram esses ‘espertos’ – o texto não dá idéia se foram 5, 50 ou 500, e no fundo talvez não importa – foi traçar um retrato do Brasil.
Não o único, evidentemente. Mas aquele que fez o jornalista Alcino Leite Neto perguntar, na Folha de 29 de março – http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id=
{04B63258-BD01-4E7B-BE22-881FB12A292A}&id_blog=3 – ‘É isto um país? É isto um povo?’
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