Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A mídia miou

Foi morna, quase burocrática, a reação da mídia e de suas entidades corporativas à decisão de um juiz do Rio de proibir quatro jornais locais e as redes de TV de apresentar imagens e até mencionar os nomes dos três estudantes-pitbulls que agrediam prostitutas e travestis com um extintor de incêndio na Barra da Tijuca.

Dois deles, maiores de idade, Fernando Mattos Roiz Júnior e Luciano Filgueiras da Silva Monteiro, foram condenados a trabalhar oito horas por semana como garis.

A decisão judicial abrange as versões on-line. Foi tomada a pedido dos advogados dos agressores. Eles alegaram que os seus clientes vinham sofrendo ameaças nas ruas. Na sentença, que data de novembro, mas só agora chegou à imprensa, o juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto, invoca o artigo 198 da Lei de Execuções Penais, que veda a exposição de réus a “inconveniente notoriedade”.

Hoje, os jornalões divulgam a decisão e um resumo dos protestos da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Os protestos foram ao nervo do problema: o juiz violou a Constituição ao impôr censura prévia à mídia. As manifestações, menos a da ABI, como o noticiário a respeito, no entanto, ficaram mais para miados do que para rugidos.

As manifestações, pelo descabido comedimento de apenas sugerir que os prejudicados recorram da decisão. As notícias, pela contenção dos textos e o escasso destaque com que foram editados.

E nenhum dos grandes jornais nacionais se deu o trabalho de publicar um editorial sobre o ato que atenta contra a liberdade de imprensa – expressão sacada do coldre com a rapidez de um raio sempre que o baronato da mídia acha que o governo pretende amordaçá-la.

O juiz estabeleceu que o jornal ou emissora que o desobedecer estará sujeito a multa de R$ 10 mil. Seria um dinheiro bem gasto para levar o assunto, com nomes e fotos, aos espaços e horários nobres da imprensa, explicando com as palavras mais claras e fortes o porquê do descumprimento da decisão.

Diante de uma violação escandalosa do direito da sociedade à informação, a resposta apropriada teria de ser de uma contundência exemplar.

Mesmo porque violências do gênero estão ficando frequentes no país.

A mídia perdeu uma oportunidade preciosa para pôr a boca no mundo.