O presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, fez declarações sobre o governo e a mídia que devem soar como música aos ouvidos de todos quantos acreditam que já passou da conta o azedume entre as partes e, mais ainda, o rancor com que simpatizantes petistas e os seus antípodas têm se manifestado sobre o assunto.
O professor Garcia como que reprovou a teoria conspiratória do complô da mídia. Segundo a Folha de hoje, reduziu a questão, do seu lado, a um mero ‘desconforto’, de resto ‘individual e eventual’ – e bem menor, nas suas palavras, do que o de certos jornalistas com o governo.
‘Então, no mínimo estamos empatados‘, calculou, para concluir: ‘Eu acho que não há nenhum problema‘.
Bola para a frente, então. Com o direito (e o dever) da crítica livre e recíproca, mas sem desqualificar, muito menos demonizar o(s) criticados(s).
O governo é legítimo e a imprensa tem fé pública. Não malbaratem uma coisa e outra, nem se façam menores por causa de ‘problemas menores’, como disse Garcia.
Se as suas palavras forem objeto de algum comentário ou editorial na imprensa, roga-se desde já aos eventuais autores que não se refiram a elas como recuo ou retratação. Melhor dizer que representam uma política bem-vinda porque vai ao encontro do interesse público.
Não basta a palavra do repórter (II)
Assim como afirmou, sem demonstrar, que a Polícia Federal e o Ministério Público ‘firmaram a convicção’ de que o então chefe da campanha da reeleição e presidente do PT, Ricardo Berzoini, mandou comprar o dossiê Vedoin, o repórter Kennedy Alencar, citando ‘conversas reservadas’ de Lula, afirma que ele ‘avaliou’ que Berzoni ‘teve envolvimento’ com a compra do dossiê.
Volto a dizer: pode ser tudo verdade, mas não se pode culpar o leitor que achar que é tudo mentira – não do repórter, mas de seus informantes.
Com todos os seus erros que vieram à tona nos últimos anos, o New York Times – ainda a grande referência do jornalismo mundial – exigiria do repórter mais corroboração antes de publicar matérias semelhantes.
Para deixar claro: nem a competência, muito menos a honestidade profissional do jornalista Kennedy Alencar estão em questão. Mas está para nascer o jornalista competente e honesto que, ainda assim, não tenha entrado alguma vez numa fria e induzido o público a erro, com reportagens sem pai nem mãe.
Quanto mais delicada a matéria, mais a ela se aplica uma versão do proverbial mandamento a que deve obedecer a mulher de César: não basta que a reportagem seja verdadeira – ela precisa parecer verdadeira.
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