Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Oposição medíocre

A oposição brasileira é de uma mediocridade espantosa. Não foi capaz de denunciar publicamente o “mensalão”, do qual tinha conhecimento pelo menos desde o surgimento das primeiras revelações (Carlos Chagas, Tribuna da Imprensa, fevereiro de 2004; Miro Teixeira, Jornal do Brasil, setembro do mesmo ano). Foi preciso que uma desavença interna no bloco governista, disparada por algum conflito entre gângsteres ainda não esclarecido (vídeo dos Correios enviado à Veja), levasse o então deputado Roberto Jefferson a cair atirando.


Em seguida, a oposição não foi capaz de obter, pelas vias políticas e institucionais, a punição dos culpados. Perdeu-se freqüentemente em agressões estéreis. Pior: mancomunou-se com os vilões da história nas votações que absolveram os beneficiários do valerioduto e do dimasduto.


Mas, afinal, que moral têm essas formações políticas para apontar um dedo acusador?


Do PT ao PP, passando pelo PSDB e pelo PFL, não há mais muita diferença entre os partidos. Ah, sim, claro: não deixemos de fora, entre os grandes, a federação de microinteresses chamada PMDB. O PTB dispensa comentários. PSB, PC do B, PDT, PPS não escapam. Todos têm parlamentares denunciados por corrupção, se não no plano federal, nos planos estadual e municipal. Nenhum tomou providências sérias a esse respeito. O PSOL ainda não foi maculado, mas sua linha política não tem nada a ver com a realidade atual do país e do mundo.


Recentemente, um antigo político com quem conversei, metido na vida pública desde antes do golpe de 64, comparou a triste sina atual do PT com a do PMDB da redemocratização. Mais ou menos nos seguintes termos: o pessoal do MDB passou a ditadura sem possibilidade de desfrutar das benesses do poder (cada um entenda isso como quiser), depois (leia-se governos estaduais, a desde 1983, e governo Sarney) aproveitou. É um emprego aqui, um contrato ali. Essas coisas.


A avaliação é imperfeita. Em estados e municípios governados sob a bandeira do MDB, antes das eleições de 1982, houve denúncias de corrupção (ops!, quer dizer, houve desfrute das benesses do poder). Assim como havia indivíduos honestos, democratas e mesmo progressistas abrigados na Arena, exatamente porque o MDB local era bandido ou pró-ditadura. Ou por alguma outra razão de política local que remontava à divisão entre PSD, PTB e UDN.


Mais do que não saber denunciar, a oposição não soube apontar caminhos, como teriam feito um Tancredo Neves, um Ulisses Guimarães, mesmo um Mario Covas nos melhores momentos.


Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Alberto Goldman não tiveram nem clareza, nem pulso para defender o interesse público. E que dizer do senador que ocupou a presidência do PSDB até meados de 2005, Eduardo Azeredo?


Dispenso-me de comentar a atuação do PFL, porque o PFL, filho do PDS, neto da Arena, bisneto de primos-irmãos da UDN e do PSD (Carlos Luz, para dar um bom exemplo, era do PSD e não da UDN), o PFL é, por sua natureza e trajetória, o mais oficialista dos partidos. Mais do que o PP, hoje tão próximo do PT.


Paga-se o preço da transição com transação que serviu para o país sair da ditadura. Foi um caminho válido, mas tem preço. Tudo tem preço na política.


Isso dito, vamos ao ponto que interessa aqui: a mídia tem sido incapaz de mostrar o fracasso da oposição. Ou não tem tido interesse nisso. Por isso há um desequilíbrio entre as denúncias contra o governo Lula e denúncias contra o governo Alckmin/Lembo, por exemplo.


O resultado é que a imprensa freqüentemente se coloca no papel de oposição, que não lhe cabe. Desatinos se multiplicam. E, por falta de clareza, o país continua ficando para trás. Com esse governo e com essa oposição, é difícil enfrentar os maiores problemas, que hoje todo mundo conhece razoavelmente.