Alzira Abreu organizou, com Israel Beloch, a primeira edição do Dicionário Histórico-Biográfico da Política Brasileira, que abrangia o período 1930-1983 e foi lançada em 1984. Trabalho ímpar feito pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas, atualizado em 2000. Mais recentemente, Alzira completou uma série de 60 entrevistas com jornalistas que participaram da transição do regime autoritário para o regime democrático. Alguns atuantes desde a década de 1950.
Percebeu então uma mudança extraordinária, o aumento da presença de mulheres nas redações. Daí o título de seu mais novo livro, escrito com a colaboração de Dora Rocha, Elas ocuparam a imprensa, onde reuniu entrevistas com Ana Arruda Callado, Cláudia Safatle, Dora Kramer, Eleonora de Lucena , Eliane Cantanhêde, Míriam Leitão, Tereza Cruvinel (jornais), Alice-Maria, Fátima Bernardes e Lilian Witte Fibe (telejornais).
“Nos anos 50 quase não havia mulheres nas redações. Duas exceções que posso citar são Adalgisa Néry, que escrevia sobre política na Última Hora, e Albeniza Garcia, repórter de polícia do Globo”, conta Alzira. “Mas a urbanização rápida e intensa abriu para as mulheres a escola, o mercado de trabalho, a universidade. Hoje, mais mulheres do que homens têm curso universitário. E, na medida em que se requer diploma universitário para ser jornalista, elas foram invadindo as redações”, explica ela, cuja formação básica foi em sociologia.
Alzira diz que, nesse quadro, descrito na Introdução do livro, dois fenômenos específicos chamaram sua atenção. Primeiro, o grande número de mulheres colunistas de política e economia. Segundo, na época das entrevistas em Brasília, o fato de que “todas as sucursais estavam na mão de mulheres. Era o matriarcado completo”, relata.
Mas, constata a pesquisadora, “não chegaram praticamente a nível de chefia ou de direção. São raríssimas, como Alice-Maria na TV Globo e na Globo News, e Eleonora de Lucena, na Folha de S. Paulo” (acrescente-se, hoje, Vera Brandimarte no jornal Valor. Ruth Aquino dirigiu O Dia, alguns anos atrás).
Mulheres jornalistas ganharam mais visibilidade, segundo Alzira, “na medida em que passaram a ser jornalistas na televisão, onde antes as mulheres eram só artistas”.
Alzira conta que os depoimentos relatam muitos episódios de discriminação contra mulheres. “A Ana Arruda conta que nas entrevistas às vezes o entrevistado, ao ver que o jornal tinha mandado uma mulher, pedia que fosse substituída por um jornalista homem. Hoje, isso não faz o menor sentido”, diz.
A pesquisadora do CPDOC está convencida de que a grande presença de mulheres – em várias redações, verificou, são mais de 50% das equipes de jornalistas – não provocou mudanças no jornalismo. “Elas dizem: A mulher é mais dedicada… Mas mudou alguma coisa? Não. Assim como a presença das mulheres não mudou nada nas outras profissões”.