O número de jovens com menos de 30 anos e que não lêem jornais cresce de forma impressionante. Dou aulas em faculdades de comunicação há três anos e a cada semestre faço uma pesquisa entre os alunos sobre leitura de jornais diários.
Esta semana, numa turma de 24 alunos, apenas um admitiu ler jornal todo o dia. Mas não é por prazer ou desejo de estar bem informado. O aluno trabalha na seção de relações públicas de uma empresa. Outra coisa que me impressionou foi a forma como manuseiam jornais. Noventa por cento dos alunos começaram a folhear o jornal pela última página, ignorando totalmente a manchete principal da capa.
Apesar de o jornal parecer algo meio extraterrestre para esses alunos, todos eles estão razoavelmente bem informados e a fonte é uma só: a internet. Na rede, apenas a minoria acessa diretamente os sites de notícias e mesmo assim só para procurar temas que os interessam diretamente. A grande maioria se informa mesmo é por meio da troca de mensagens pela Web.
Eles têm um conhecimento apenas superficial do que os jornais tratam na primeira página. Sabem que há uma reunião de “um negócio chamado G-20” relacionado à crise global mas preferem saber mais sobre cultura, esportes, ecologia e lazer.
Dificilmente algum dos meus alunos vai ler este post porque o que acabo de escrever é para eles um assunto sem nenhuma novidade, há muito tempo. Mas é impressionante como para os mais velhos isto soa como algo surpreendente. Esta duplicidade de atitudes é que impressiona, porque, afinal, estamos tratando de um mesmo canal de informação, numa mesma sociedade e num mesmo momento histórico.
Revela a nossa dificuldade em entender um processo que já vem rolando há tempos. Mostra ainda a resistência atávica dos jornalistas em mudar rotinas como a ênfase dada à edição da primeira página, quando os leitores jovens preferem começar pela porta dos fundos do jornal.
Se os dados presentes já impressionam, quando vemos a questão em perspectiva a situação fica ainda mais impactante. Daqui a 10 ou 15 anos, esses alunos estarão começando a ocupar posições num mercado onde a informação é a matéria-prima mais valorizada. Se eles hoje eles já não lêem mais jornal, daqui a uma década e meia, notícia em papel só mesmo em museu. Quem comprará jornais, então?
É esta a equação que a indústria dos jornais mostra tanta dificuldade em entender. O seu presente pode não ser o pior dos mundos, mas o futuro é seguramente dramático segundo todas as previsões feitas por especialistas nacionais e estrangeiros.
A maioria dos jornais assume agora a preocupação como rotina ao mesmo tempo em que procura frenéticamente soluções em meio a malabarismos financeiros ou gráficos. Mas a grande questão é como restabelecer a relevância do jornal para o público nos próximos 10 a 15 anos.
A busca de fórmulas de sustentação econômica e de novos modelos de receitas é essencial, mas só funcionará se estiver apoiada naquilo que é central a um veículo de comunicação: o binômio relevância e credibilidade. E nisto pouca coisa está sendo feita, porque o primeiro passo é restabelecer a conexão profissional / leitor.
Os jornais têm montanhas de dados sobre o que pensam e desejam os leitores. Também conhecem há décadas, porque foram os primeiros a anunciar, qual o potencial da internet em matéria de informação. Matéria-prima para a reflexão eles sempre tiveram e mais do que qualquer outro segmento empresarial.
O que faltou foi agilidade e decisão para mudar um modelo de negócios que, nos anos 1980 e 90, parecia insuperável. Houve muita demora em perceber que a Web e o computador não eram um telégrafo mais rápido e uma máquina de escrever mais sofisticada. Quando os jornais se deram conta que o que estava surgindo era uma realidade informativa totalmente nova, a rotina, corporativismo e auto-suficiência das redações impediram que o público fosse levado em conta na busca de um novo modelo de negócios.
Muitos jornais estão abrindo agora suas páginas Web para comentários, fotos e até vídeos enviados por leitores. A estratégia pode dar algum resultado, mas vem tarde demais e, na verdade, apenas empurra ainda mais o público em direção à internet, onde as possibilidades de participação e interação oferecidas por outros sites são incrivelmente mais sofisticadas e atraentes do que as dos jornais, especialmente para os jovens.