Uma das tarefas mais difíceis do jornalismo é procurar sintetizar uma realidade complexa em poucas linhas de texto, em alguns segundos de imagens ou escassos minutos em áudio. É o grande quebra cabeças e a principal fonte de divergências entre profissionais, fontes e o público.
Isto é tão velho quanto a atividade jornalística, mas a cada dia que passa a dificuldade aumenta porque até os fatos mais corriqueiros estão se transformando em realidades complexas dada a multiplicação de percepções diferentes transmitidas por diferentes canais de comunicação que conformam a badalada avalancha informativa gerada pela digitalização e pela internet.
Até agora os leitores, ouvintes e telespectadores foram acostumados a esperar dos veículos jornalísticos uma síntese da realidade empacotada em notícias, análises e comentários que pretendiam dar ao público consumidor de informações uma idéia simplificada dos acontecimentos quotidianos.
Esta tarefa torna-se cada vez mais inviável dada a crescente diversificação de percepções, o que nos leva a duas indagações:
a) Para que servem então os jornalistas?
b) Como é que vamos tentar entender o mundo?
A resposta à primeira indagação é parcial. Uma coisa já está clara, não podemos mais jogar sobre os jornalistas a responsabilidade de fazer a síntese diária do mundo para nós leitores porque o mundo ficou complexo demais para ser resumido em linhas de texto ou segundos de tempo. Mas ainda resta pesquisar quais as novas funções dos jornalistas no mundo da informação digital.
Já a segunda indagação tem uma resposta definida embora tão complexa quando a dúvida que a motivou. A síntese do mundo será feita por todos nós, pela soma dos nossos conhecimentos e percepções recombinados de forma coletiva. A síntese quotidiana do que acontece no mundo não será mais feita por uma redação ou por um grupo de profissionais, mas pelo conjunto dos chamados produsers, jargão gringo para a nova figura dos produtores e consumidores de informações, ou seja, todos nós.
A atividade jornalística começa a ficar cada vez mais fragmentada entre milhares de produsers, onde cada um deles tem uma competência limitada porque não pode ter a visão do todo, ou seja de toda a complexidade dos fatos, dados, processos e notícias do nosso quotidiano. A fragmentação noticiosa gera a dependência da diversidade de fontes informativas o que abre a possibilidade do jornalismo de nicho ou segmentado.
Quanto maior a fragmentação ou segmentação informativa, maior a diversidade de fontes e percepções, dando como resultado uma informação mais contextualizada e mais próxima da realidade. Aí estão delineadas algumas das possíveis funções futuras do jornalismo.
Mas tudo isto ainda depende do fator financeiro, ou seja, da sustentabilidade econômica e é ai que está o grande desafio para todos nós, jornalistas ou produsers. Da mesa forma que a produção da síntese noticiosa passa a ser uma tarefa coletiva, a busca de fórmulas para a sustentabilidade econômica da atividade jornalística segmentada passa também a ser uma questão social.
A realidade atual nos aponta duas possibilidades: a atividade jornalística sustentada por interesses comerciais, mais ou menos como é hoje; ou então patrocinada pelo Estado. Na conjuntura atual, é fácil perceber que nenhuma delas vai conseguir um mínimo de consenso.
Mas existe uma terceira, que é o financiamento pela sociedade. Normalmente o governo seria o representante da sociedade e portanto o canal adequado para financiar a atividade jornalística. Mas como ainda vai demorar muito para que os governos deixem de ser feudos de interesses privados de todos os tipos, voltamos ao impasse do parágrafo anterior.