Nós fomos acostumados à idéia de que somos receptores passivos de informações e notícias lendo um jornal, ouvindo uma rádio ou assistindo TV. O máximo que podiamos fazer, até agora, era comentar com a pessoa ao lado. Mas a internet está destruindo esta forma de ver as coisas, este comportamento. A maioria das pessoas ainda não se deu conta, mas cada vez mais a transmissão da informação está se transformando num processo de troca, ou segundo a expressão da moda, numa conversa. Isto está acontecendo porque mudou a forma como manejamos a informação. Até o surgimento da internet, ela era uma mercadoria empacotada servida ao público pelos veículos de comunicação. Agora os fóruns, chats, listas de discussão e weblogs criaram uma segunda via nesta relação. Podemos falar com quem mandou a informação ou notícia. Os primeiros a perceber esta interatividade com o público foram os especialistas em marketing online e teóricos da economia virtual autores do famoso Cluetrain Manifesto , um documento que afirmava categoricamente que a conversa entre vendedores e consumidores era a base para o comércio eletrônico. ‘Os mercados passivos são coisa do passado. O novo mercado é uma conversa‘, proclamava o texto que ainda é considerado uma espécie de bíblia da chamada nova economia. Agora o conceito de troca ou conversa contaminou os gurus do jornalismo online, como o norte-americano Jeff Jarvis, que vai escrever um livro baseado em troca de informações com futuros leitores, seguindo a trilha aberta por Dan Gillmor, autor do livro We the Media . A nova prática de jornalismo a partir da conversa com leitores ainda está em fase embrionária, até mesmo nos Estados Unidos. Mas as bases teóricas para o seu desenvolvimento são mais claras. A troca de informações é um processo diferente da troca de bens físicos. Quando alguém troca uma maçã com outra pessoa, ambos saem com uma maçã na mão. Mas quando você troca informações com um amigo, você e ele saem com duas informações. Este processo multiplicador está na base do incrível crescimento da nova economia, cuja matéria prima mais valorizada é a informação. A avalancha informativa liberada pela internet atropelou os profissionais da informação e os veículos de comunicação a ponto deles hoje já não poderem mais apoiar-se apenas nos seus próprios recursos humanos e materiais para estar em todos os lugares onde acontecem notícias. Cada vez mais a imprensa pede a ajuda e participação do público na forma de informações em texto, imagens e áudio. Por isto, a dinâmica e amplitude do jornalismo online baseado na conversa é muito maior do que a do jornalismo convencional. A troca, no entanto, implica uma mudança radical nos valores e práticas da profissão. A mais controvertida delas é o surgimento do chamado jornalismo amador (também conhecido como jornalismo cidadão), na medida em que as pessoas comuns passaram a poder usar a internet para publicar suas idéias, propostas e conhecimentos. Qualquer pessoa pode funcionar como jornalista amador, mas ela só faz juz a esta denominação quando usa as ferramentas da internet para participar da grande conversa da comunicação virtual. O surgimento desta nova realidade alterou a rotina do jornalismo profissional (exercido por quem estudou para exercer uma atividade que é seu ganha pão) obrigando os seus praticantes a dialogar com os amadores (sem especialização e sem fins de lucro). Os mais conservadores acham que isto significa um rebaixamento de padrões técnicos enquanto a nova geração de profissionais começa a descobrir que o monólogo tradicional impede a produção informativa no ritmo exigido pela sociedade contemporânea. Tanto quanto noutras áreas da internet e do jornalismo online, a grande conversa está apenas começando.