É histórica e recorrente a tomada de posição política que a Rede Globo estabeleceu, via seus telejornais, nas cinco eleições presidenciais do Brasil após o período de redemocratização. Por meio de uma agenda de notícias que determina a tomada de posição política da emissora, expressa via um enquadramento que valoriza o discurso e a aparição de candidatos que detêm sua aprovação, ao lado da depreciação de ‘personagens’ que não detêm sua simpatia, os telejornais da Rede Globo impõem um ambiente de apoio que, não raro, chega muito próximo à publicidade eleitoral.
Para as eleições presidenciais de 2010, os arranjos e conchavos políticos já se mostraram nítidos nos principais telejornais da emissora. Resta retomar os comentários de Arnaldo Jabor, no Jornal da Globo, no último dia 15 de abril, ao retratar um suposto colapso do sistema aéreo brasileiro que, na visão do jornalista, não acompanha o ritmo do crescimento do setor, superaquecido pela ascensão da classe média ao serviço.
Para legitimar seu discurso, Jabor recorre a analogias, retoma o problema da crise e dos últimos acidentes aéreos, com a nítida intenção de polemizar e atrelar tais eventos à ineficácia e à suposta corrupção do atual governo federal.
Gritos de desespero
A clareza na fala do apresentador traz, inacreditavelmente, uma tomada de posição política, resta ler: ‘Será que a Infraero nunca será privatizada? A Dilma já disse que não, tudo é patrimônio nacional. Mas lembram que esse patrimônio foi roubado em R$ 900 milhões entre os anos de 2003 e 2006 com obras superfaturadas, descobertas na operação `Caixa Preta´ da Policia Federal? R$ 900 milhões. Alguém foi em cana?’
A descontextualização da fala de Jabor ganha uma versão ainda mais emblemática quando o comentarista tenta defender o modelo neoliberal e aproximar a imagem do presidente Lula ao fantasma do comunismo, fórmula bem sucedida que foi explorada pelos adversários do petista nas campanhas presidenciais de 1989, 1994 e 1998, segundo segue: ‘Os aeroportos também não podem virar concessões privadas: `Ah, que diria Lenin, Fidel, Chávez?´.’
Diante de colocações diretas e pouco elucidativas, resta pensar que as críticas de Jabor mais parecem apelos e gritos de desespero da emissora frente às últimas pesquisas de intenção de voto, que mostram o crescimento da candidata petista Dilma Roussef nas disputas presidencial de 2010.
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Doutora em Ciências Políticas pela PUC-SP