O caso do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, abordado em dossiê sobre a Itália na edição da revista The Economist que circula amanhã, pode ajudar a refletir sobre a crise de corrupção brasileira. Às vésperas das eleições de 2001, que permitiram a volta de Berlusconi ao poder, a The Economist afirmou num artigo que ele não tinha condições de assumir o governo. Porque o homem considerado o mais rico da Itália estava sob investigação sob acusações de lavagem de dinheiro, cumplicidade em assassinato, conexões com a Máfia, sonegação de impostos e pagamento de propinas a políticos, juízes e policiais fazendários. Entre outras coisas.
O que fez Berlusconi, que enfrentará nova eleição em abril de 2006? Usou o peso de sua maioria no Parlamento, mudou leis, valeu-se da perempção. E conseguiu, até agora, escapar das condenações na Justiça e do banimento político. Isso num país que tinha acabado de passar por um grande processo de combate à corrupção e ao crime chamado Mãos Limpas.
A analogia com o caso brasileiro não diz respeito à natureza dos crimes imputados. Trata-se de mostrar como quem ocupa o poder tem margem de manobra para se defender.