Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O cardápio do aquecimento global

Caça às raposas
A União Européia vive exigindo certificações dos alimentos que importa. Rastreabilidade, ética, bem-estar animal, preservação ambiental etc e tal. Tudo bem. A nosotros do Terceiro Mundo, exportadores de matérias-prima baratas, cabe cumprir todas estas exigências e fornecer alimentos saudáveis, ambientalmente corretos, produzidos com os mais elevados padrões éticos.
Só que as regras deveriam valer para todos: exportadores e importadores. Afinal, matar raposa a paulada, como fez o príncipe Philliphe, pode? E dar o troco, devorando o cachorrinho de estimação da rainha Elizabeth 2ª, como fez Yoko Ono, também vale?


O rei do churrasco
Dias antes de anunciar a compra da unidade americana Swift Foods & Company, o frigorífico Friboi assinou um pacto para a erradicação do trabalho escravo na cadeia produtiva da carne, comprometendo-se a não comprar animais de empresas que constem da chamada ‘lista suja’. Para quem passou a ser o maior frigorífico do mundo e líder nas exportações de carne bovina, manter a imagem limpa é fundamental.


Carne sem sangue
Vira e mexe, sai uma denúncia lá fora sobre trabalho escravo na pecuária de corte ou desmatamento na Amazônia para formação de pasto.
Maior exportador de carne bovina do mundo, o Brasil tem telhado de vidro por causa da febre aftosa, o que lhe impede de ampliar mercados e agregar mais valor ao bife. Convém, portanto, evitar polêmicas em questões delicadas como trabalhos forçados e Amazônia.


Boi verde
Com um rebanho formado basicamente pela raça nelore, o Brasil está longe de produzir o melhor bife do mundo, como o saboroso chorizo argentino. Mesmo assim assumiu a liderança das exportações. Criado a pasto, o chamado boi verde brasileiro ganhou respeito lá fora, com status de alimento natural e saudável. Mas ainda não conseguiu vender cortes mais nobres. O Brasil ainda é fornecedor de carne para hambúrguer e cozidos, além de miúdos.


Dieta ecológica
O efeito estufa já faz parte do cardápio em alguns Estados dos EUA, como a Califórnia. A moda por lá é a Global Warming Diet  (Dieta do Aquecimento Global). O objetivo não apenas o de reduzir a cintura, mas a emissão de gases poluentes. Consumir de preferência os produtos locais é o princípio da Global Warming Diet. Tem lógica. Todo o processo de produção dos alimentos — transformação, embalagem, transporte e conservação nos supermercados — consome muita energia. Um estudo conduzido pela Universidade de Chicago revelou que em 2002 a produção de alimentos nos EUA representava 17% do consumo de energia de combustíveis fósseis do país.


Buy local
Resgatar as raízes, comprando produtos do chacareiro da periferia, é a proposta do Global Warming Diet.  A compra direta dos alimentos tem a vantagem de reduzir gastos com energia e eliminar a intermediação de grandes empresas, aumentando a margem de lucro dos pequenos produtores. Ou seja, a jogada não é só ecológica, mas política.