Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O que fazer com 8 reais

Com o dinheiro na carteira, vá à melhor banca de jornais da vizinhança. E compre um exemplar da edição inaugural da mais nova revista mensal brasileira de leitura, reportagem e cultura. Chama-se piauí [assim, em minúsculas].

piauí está para a imprensa brasileira como o Rubaiayat de São Paulo para o churrasco.

É tão suculenta como a Picanha Summus, nau capitânea do estrelado restaurante.

Com pelo menos três vantagens:

Custa nove vezes menos do que aquelas 360 esplêndidas gramas de carne com cogolhos de tudela e batatas ao murro (R$66 mais 10% de serviço).

Aplaca por um mês inteiro a fome de jornalismo – e de texto, e de texto – de primeira classe. Fazia uma eternidade que isso não acontecia no idioma da gente.

Aos céticos, recomendo a leitura de apenas uma de suas 50 páginas editoriais, como espécie de degustação. A de número 11, que abre a seção esquina – a versão piauiense do Talk of the Town da venerada New Yorker, em que o mensário se inspira.

Lá está, na infelizmente não assinada matéria ‘Um horror, grande e mudo, um silêncio profundo’:

Roberto Jefferson não fala – perora. Desde cedo, aprendeu a salpicar drama nas suas falas. Nas CPIs, não improvisava. ‘Na véspera, à noite, eu fazia prelibações…’. Sopesava imagens, sentia o gosto das metáforas. Recordava os parnasianos.

E tem ainda a instrutiva história da visita do então presidente do PTB à casa de César Maia, que acabara de se eleger prefeito do Rio. Tira-gosto: ‘Sequer nos ofereceu uma água.’ O resto seria maldade antecipar.

A terceira vantagem, enfim, é que você ainda leva R$0,10 de troco do jornaleiro.

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