Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os verdes não estão com nada

Eles devem estar rubros de raiva com o presidente Lula por ter ele comparado o recente surto do desmatamento na Amazônia a um “tumorzinho” ou a uma “coceira”.


 


No primeiro caso, comparou, antes de dizer que se trata de um câncer, precisa fazer uma biópsia.


 


Assim como os criadores de gado e plantadores de soja, o ministro da Agricultura e os governadores de Mato Grosso e Rondônia, Lula não gosta dos números divulgados na semana atrasada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Ministério da Ciência e Tecnologia, que mede mês a mês a metástase amazônica.


 


Aliás, não vi na mídia nenhuma reação tão apropriada às contestações aos dados do Inpe como o comentário irônico do ministro do setor, Sérgio Rezende:


 


“Quando o Inpe informou que o desmatamento diminuía, ninguém duvidou dos números.”


 


O ponto é que os verdes não têm a quem se queixar porque não estão com nada.


 


Se há um assunto sobre o qual o presidente e o mais anti-lulista barão de mídia estão de acordo é a prioridade da produção sobre a preservação – embora falar mal da defesa ambiental, hoje em dia, é pisar no tomateiro. Daí por que os editoriais aparentemente deplorassem a economia de terra arrasada na Amazônia.


 


Vão por mim. É tudo da boca para fora. Menos quando a crise ambiental é pretexto para desancar o governo – cujas culpas em cartório nem precisam ser exageradas.


 


Para a grande imprensa, a produção da agricultura extensiva – o agribusiness que é a menina dos seus olhos – é sagrada. O presidente concorda e acrescenta a produção da agricultura familiar, subsidiada pelo Pronaf.


 


E vamos deixar de conversa fiada: no limite, a imensa maioria da população, se tivesse de fazer uma escolha (simplória) entre economia e ecologia, não pensaria duas vezes. Emprego e renda são as cartas imbatíveis, como o royal straight flush no poquer. Contra elas, o ambientalismo é um mísero par de sete.


 


Confere com o que se sabe: em geral, quanto mais desenvolvido um país e mais bem-informada a sua população, mais verdejante ela tende a ser. Na Alemanha, por exemplo, o cacife eleitoral do Partido Verde faz dele uma força que nenhum dos dois partidões – o social-democrata e o democrata-cristão – pode ignorar na hora de formar o governo e de apresentar projetos de peso.


 


No Brasil, quando Lula desautoriza em público – lembram-se do “bagre” do Rio Madeira? – a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, os mesmos jornais que vivem desancando o presidente ou calam, consentindo, ou tomam abertamente o seu partido.


 


O qual, no caso, é o de quase todos – políticos, capitalistas e assalariados. Não se trata de uma peculiaridade brasileira. Na China, Índia e Rússia, que formam com o Brasil o acrônimo Brics, não dá outra, apesar das denúncias cada vez mais contundentes dos ambientalistas chineses.


 


Ressalve-se uma coisa: apesar de serem o que são as posições da mídia brasileira, o desmatamento tem merecido das redações uma cobertura frondosa – o que não acontece nem na Índia, nem na Rússia, muito menos na China.


 


P.S.


 

Este texto estava pronto para ir ao ar às 9h13 da quinta-feira, 31. Ficou como aquele passageiro, em meio ao apagão aéreo, sem saber quando o seu vôo seria liberado, nem quando terminaria o conserto da pane que fechou o nosso espaço na blogosfera.