O antropólogo Roberto DaMatta disse ao Em Cima da Mídia, sobre a catástrofe de Nova Orleans, que ela removeu o véu que disfarçava a segregação na cidade. Ele visitou Nova Orleans cinco vezes durante o período em que morou nos Estados Unidos. ‘À noite não dava para entrar em certos bairros’, relatou.
– Muitos negros pobres se tornaram dependentes da previdência social e passavam o dia sem fazer nada, tomando cerveja da garrafa oculta no saco marrom, o brown bag, o que provocava forte reação da América WASP (white Anglo-Saxon Protestant) – disse o antropólogo.
Mas, para DaMatta, havia algo de muito atraente na cidade:
– É uma cidade do hedonismo, a mais parecida com o Brasil que há nos Estados Unidos. Como a polícia é negra, muita coisa se resolvia sem conflito. O que aconteceu é uma pena.
A camada dominante de Nova Orleans, explicou Roberto DaMatta, é composta por americanos descendentes de franceses que têm pretensões aristocráticas. “Eles não convidam judeus e italianos para seus bailes de Carnaval”, exemplificou.
DaMatta interpreta a mobilização de George W. Bush e de Condoleezza Rice não como mera jogada de relações públicas, mas como decorrência do sentimento de que não dá para ficar indiferente. “No Brasil não se faz coisa nenhuma. Há desânimo”.
Ele acha que Nova Orleans será reconstruída com brio. Quer estar lá para comemorar com ostras, que considera as melhores que já comeu.