Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nada a celebrar

Não foi possível outra abordagem: os cadernos especiais elaborados pelos jornais para comemorar os 50 anos de Brasília, nas edições de quarta-feira (21/4), estão contaminados pelo noticiário a respeito do escândalo que levou à prisão o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.


Assim, ao completar meio século, Brasília encontra sua síntese: na cidade em cruz desenhada por Lúcio Costa e projetada por Oscar Niemeyer, está representada a histórica mistura entre o sonho da modernidade e os vícios que nos atam ao passado.


Os cadernos comemorativos dos principais jornais de circulação nacional fazem um retrato impiedoso da capital federal. Segundo o Estado de S.Paulo, Brasília é um cartão-postal cercado pela miséria. De acordo com a Folha de S.Paulo, a cidade chega aos 50 anos imersa na maior crise política de sua história e com graves problemas de transporte, habitação e emprego. Na visão do Globo, a festa é tímida, e a capital federal vai comemorar o aniversário envergonhada pela prisão de seu ex-governador e a ameaça de intervenção federal.


Hino à cidade


Os jornais partem do lugar-comum da ousadia arquitetônica de Niemeyer e Lúcio Costa e enveredam para as análises sobre a eterna obsessão brasileira com a modernidade.


Os analistas convidados observam que o isolamento da capital federal, no meio do Cerrado, facilitou a cristalização da política patrimonialista, que coloca no poder, sucessivamente, gente como Arruda e Joaquim Roriz.


O Estadão lembra que a nova capital pratica o que há de mais velho na política e faz aniversário com um governo tampão, eleito indiretamente.


A Folha propõe um hino para o cinqüentenário de Brasília.


Nada mais apropriado: a convite do jornal, constrói-se um rap, essa espécie de repentismo marginal que a imprensa chama de música.


 


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