No livro 102 minutos, a história inédita da luta pela vida nas Torres Gêmeas, os repórteres do The New York Times Jim Dwyer e Kevin Flynn sintetizam as conclusões de uma comissão de inquérito do Congresso americano criada, contra a vontade do presidente George W. Bush e do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, por pressão da famílias que tinham perdido parentes.
“A comissão documentou anos de dificuldades na coleta e distribuição de informações secretas, no controle de fronteiras, na segurança de aeronaves e na resposta a emergências. Essas foram revelações dolorosas”, escreveram. “Era difícil que os ataques fossem um golpe surgido do nada, como pareceria nos primeiros dias: os seqüestros eram apenas o último e mais letal elo numa corrente de eventos que se estendiam até muitos anos antes, e haviam sido antecipados, de uma forma ou de outra, durante os meses que os antecederam. (….) Embora algumas peças desses relatórios tivessem sido obtidas em meados da década de 1990, um alerta de que soldados da Al Qaeda haviam se infiltrado nos Estados Unidos e pareciam interessados em seqüestrar um avião foi entregue ao presidente no dia 6 de agosto de 2001, apenas um mês antes dos ataques, com o título Bin Laden Determinado a Atacar nos Estados Unidos”.
‘Os diagnósticos post mortem feitos pela imprensa e pela comissão’, prosseguem, ‘jogaram luz sobre a longa sombra de segredos, ocultamentos e mitos que cercaram os eventos de 11 de setembro de 2001. Dito isso, nenhum nível do governo americano possuía prática para se defrontar com atentados tão ferozes contra civis. Nem Nova York nem os Estados Unidos tinham memória prática para lidar com ataques duradouros dentro do país. (….) Uma cascata de comunicações falhas – muito semelhante à ordem não transmitida de Cheney para derrubar o avião [ver adiante] – custou vidas. Os helicópteros da polícia relataram a deterioração das duas torres e predisseram, especificamente, o colapso da Torre Norte. Os comandantes dos bombeiros não tinham conexão nenhuma com os helicópteros, nem havia como receber os relatos, mas, quanto a isso, também tinham pouco ou nenhum vínculo com suas próprias tropas. Os rádios para comunicação interagências descansavam em prateleiras ou nos bagageiros dos carros, sem uso’.
[‘Durante a crise de 11 de setembro, o vice-presidente Dick Cheney deu instruções para que fossem derrubados aviões suspeitos que se recusassem a obedecer a comandos. Como se viu depois, a ordem nunca foi transmitida aos pilotos de caça, falha que, de qualquer modo, provou-se de pouca relevância: a defesa aérea nacional e as autoridades da aviação civil tinham sido incapazes de somar seus recursos para localizar até mesmo um dos aviões seqüestrados durante o sítio de duas horas. Assim, a ordem de atirar não foi ouvida, e os aviões nos quais se deveria atirar não foram vistos’.]