Ao mesmo tempo em que se vive a expansão tecnológica voltada aos diversos suportes de comunicação, alavancados pela expansão da banda larga, como iPods, lap tops, celulares e iPads, entre outros, a televisão terrestre e o cinema buscam ancorar-se nas novidades para garantir a manutenção de seu espaço nesta Fase da Multiplicidade da Oferta.
Depois do sucesso do cinema em três dimensões, a TV prepara-se para estrear abertamente essa nova possibilidade (ambos na modalidade digital). No Brasil, as gravações pioneiras em 3D remetem a 2009, mas a primeira transmissão ao vivo nesta modalidade é de 2010. Foi com a exibição dos desfiles das escolas de samba do grupo especial do carnaval do Rio de Janeiro, realizada pela Rede Globo e pela Net (através do canal 750 – apenas na capital carioca), experiência captada por pontos com televisores específicos.
As duas empresas prometem operar em 3D ainda em 2010, estando a Globo programada para transmitir neste sistema alguns jogos da Copa do Mundo. Concomitantemente, as empresas Panasonic, LG, Toshiba e Sony já possuem aparelhos planejados com telas planas para tal tipo de emissão; porém, a Samsung saiu na frente e na segunda semana de abril deste ano lançou no mercado produtos desta tecnologia a um custo de R$ 7.999,00.
Inovação avaliada como positiva
Além dos televisores, as empresas esperam novamente conseguir emplacar o Blu-ray, já que não foi possível ainda derrubar os DVDs. Para isso, Samsung e Sony estão se preparando para reproduzir através de seus equipamentos as produções de Hollywood em 3D voltadas à disponibilização também doméstica, por intermédio do Blu-ray. A tecnologia muito em breve pretende atingir também computadores, videogames e celulares.
A exemplo da televisão digital, o consumidor poderá optar por um aparelho já com imagens em 3D ou um com imagens em 2D com possibilidade para adaptações. Apesar das pesquisas em desenvolvimento para suspender seu uso, os já conhecidos óculos polarizados utilizados nas salas de cinema 3D ainda não serão dispensados, provavelmente vindo a constituir-se como mais um objeto a fazer parte dos lares brasileiros.
Se for remontado o processo recente do cinema, vê-se que ele já conquistou públicos recordes em bilheteria e até mesmo premiações, através da inclusão da tecnologia em filmes como, por exemplo, Avatar. Todavia, persistem controvérsias se o 3D irá superar o tradicional 2D. Para essa reflexão, deve-se lembrar do surgimento de tecnologias anteriores. Quando do aparecimento do áudio nas imagens cinematográfica, ou mesmo da cor, mais tarde, havia expectativa que houvesse produção paritária das duas formas, o que não vingou. O consumidor, a partir do momento que se habitua a uma inovação que avalia como positiva, tende a não querer abrir mão dela. Prova disso, é que, entre os 10 filmes que mais arrecadaram no mundo em 2009, quatro são produções em 3D, quais sejam: Avatar, Up-Altas aventuras, Monstros vs. Alienígenas e A Era do Gelo 3.
Um esforço mental
Quanto à televisão, a idéia é não ficar para trás; além de eventos de grande porte, como o carnaval e aquelas programações mais consolidadas, como as telenovelas, o setor de produção audiovisual também estuda investir na cobertura de atividades esportivas em 3D, não obstante dados conteúdos, como o jornalismo diário, em princípio não tenham porque coletar e distribuir conteúdos em três dimensões.
Apesar do nome indicar três dimensões, os produtos 3D possuem duas dimensões, altura e largura, elaboradas de maneira que proporcionam a sensação de possuírem três. Através de óculos especiais, os quais disponibilizam uma imagem diferente para cada olho, modificam o ângulo (da altura e largura) das imagens, fazendo com que o cérebro seja capaz de criar a ilusão de profundidade. A vantagem da tecnologia em três dimensões é principalmente referente à possibilidade de uma experiência mais profunda com as imagens. Os detalhes são mais ricos e pode-se perceber a ideia de profundidade.
Em outras palavras, para compreender a questão facilmente, é só lembrar que as pessoas possuem dois olhos, que, por sua vez, permitem uma visão bifocal. O que a tecnologia proporciona é a exibição do objeto com uma pequena diferença para cada olho, fazendo uma composição, a fim de que o cérebro identifique como três.
Ainda existem problemas técnicos a serem resolvidos, referentes a esse modo de fazer as três dimensões, pois hoje se constata que até mesmo a mais moderna das tecnologias 3D ainda causa fadiga ocular, se o telespectador passar muito tempo assistindo às imagens. Por isso, o acompanhamento tem sido constante e têm surgido muitas parcerias de empresas de tecnologia com médicos e pesquisadores da área. A explicação para essa fadiga é que quando a tecnologia 3D está em uso as imagens parecem sair da tela e ficam mais próximas do telespectador: para captar essa distância é realizado um esforço mental, com o intuito de que o cérebro reconheça o local onde colocar o foco da visão.
Indícios de problemas para a saúde
O normal da visão humana é que seja focalizada na posição do objeto em primeiro plano. Para entendimento, pode-se pensar o seguinte: olhando-se para a própria mão, consegue-se visualizá-la com nitidez sem esforço aparente. No entanto, quando se deseja perceber o que está atrás dessa mesma mão, precisa-se enviar um comando para o cérebro, que desfoca o olhar para além da superfície encontrada no primeiro plano.
Nesse rumo, para visualizar as imagens em 3D os olhos precisam realizar pequenos e freqüentes ajustes de foco. É essa atividade cerebral que pode tornar-se cansativa. Além disso, embora pequena, existe a possibilidade de pessoas que já possuem problemas de visão não conseguirem enxergar em três dimensões.
Entretanto, essas dificuldades provavelmente serão superadas, com evolução técnica ou superação, por parte dos espectadores. Também um dia houve indícios de problemas à saúde referente à utilização dos celulares, quanto à possibilidade de câncer e outras doenças. Foi um momento superado pela sociedade e hoje quase a totalidade das pessoas possui aparelho telefônico móvel. Não necessariamente há plena convicção de inexistência de problemas de saúde com o uso do aparelho, mas a sociedade ultrapassou os obstáculos.
Sociedade clama e aceita o diferente
Evidente, ainda não é possível afirmar que as imagens com profundidade irão sobrepor as convencionais, principalmente porque o sistema ainda é precário. A necessidade de utilização de óculos, por exemplo, é um método arcaico, prejudicial à nova tecnologia. Contudo, apesar do pouco tempo de introdução do sistema no cinema, percebe-se forte adesão, sinalizando o que pode acontecer na televisão. Trata-se de uma situação diferente do que ocorreu com a TV digital, que, a despeito de grandes insistências, ainda não alcançou pleno êxito, o que talvez só obtenha através de expedientes como o 3D.
As empresas brasileiras têm adiantado suas pesquisas e avançado na tecnologia 3D. O Brasil praticamente acompanhou o lançamento mundial, ocorrido na Inglaterra apenas 15 dias antes da experiência brasileira. Apesar da falta geral de qualidade do conteúdo da televisão brasileira, o público demanda por evolução técnica e diferenciação.
O consumidor espera ter seu modo de lazer e entretenimento verdadeiramente impactados, premissa de difícil concretização. Enquanto as alterações permearem o campo somente estético, não haverá impactos profundos nas estruturas sociais. Mesmo assim, quando o grande grupo sentir-se chamado para uma alteração de grande dimensão, não só em relação a modos de narrar e apresentar conteúdos, mas também do que e como abordar, dando lugar à diversidade sócio-cultural, então poderá se viver uma fase distinta. Nota-se que adaptações são possíveis e que existe uma sociedade que clama e aceita o diferente.
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Respectivamente, professor titular no programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos; e mestranda em Ciências da Comunicação na mesma instituição