Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Já não se fazem listas negras como antes

A propósito do artigo ‘Da discussão nasce a escuridão’, de Carlos Brickmann [http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=460CIR001], no Circo da Notícia deste OI.


Agradeço ao autor a sugestão de que eu me manifeste. Como o seu texto aponta e exemplifica, pode-se falar em dois tipos de listas negras – a dos jornalistas que não devem ser contratados e a das pessoas que não devem ser “noticiadas”. Neste segundo caso, quando a força dos fatos torna inevitável a sua inclusão no noticiário, a idéia é fazê-lo o quanto possível em surdina. Isso não se aplica ao primeiro caso, evidentemente: nenhuma contratação é inevitável.


 


Jornalistas são vetados pelos patrões e/ou pelos editores. Mas a razão de fundo tende a ser a mesma: eles se tornam indesejáveis porque têm fama de “criar caso”, por ser independentes e se recusarem a torcer os fatos para amoldá-los aos caprichos da chefia, ou, pior, à linha da casa, como se diz nas redações.


 


Torcer os fatos, a propósito, não é só dizer que chove canivete quando o céu está apenas nublado, ou vice-versa. Entre muitas outras coisas, é hierarquizar eventos e personagens em cada matéria e as matérias no conjunto da edição, de modo a dar ao público uma visão das coisas que combina menos com a realidade apurada do que com a posição que o periódico tem a respeito.


 


Hoje em dia, não se fazem mais listas como no tempo da ditadura. (E mesmo então – a história é conhecida – havia no baronato da mídia quem se recusasse a expurgar ou a fechar as portas àqueles que o regime queria banir da profissão.) Não existem relações de nomes inempregáveis. E contrariando a mitologia de que a mídia é um monolito, um jornalista inaceitável para a publicação xis poderá perfeitamente ser aceito pela publicação ipsilon.


 


Mas a competência e a integridade ainda estão longe de ser os requisitos exclusivos para uma carreira jornalística bem sucedida no Brasil.