Ao deixar a China por razões éticas, para não mais ceder à censura do governo, o Google agiu como uma grande empresa de mídia seguindo seus próprios valores. O episódio levantou o seguinte debate: as ferramentas de busca online devem se comprometer a um código de ética, como fazem muitas organizações jornalísticas? Na semana passada, o colunista David Carr, doNew York Times, trouxe à tona esta questão ao abordar a decisão dos executivos do Google de deixar um mercado tão lucrativo como o chinês em reação a conflitos com o governo sobre privacidade e livre fluxo de informações.
Depois que o fundador do Google, Sergey Brin, visitou a redação doTimes, Carr escreveu que a empresa obviamente tem um grande interesse comercial em proteger a ‘santidade de suas contas de e-mail’. ‘Na medida em que Brin falava, lembrou-me muitas pessoas para as quais trabalhei como jornalista, que dizem que irão proteger a mim e a minhas fontes, não importa quem vier atrás de nós. Mas o Google insiste que não está interessado em produzir ou criar conteúdo’, afirmou.
Luta
A imprensa livre já lutou com a censura no passado e agora o Google segue seus passos, mesmo insistindo que não é uma empresa de mídia, opina Mercedes Bunz [The Guardian, 31/3/10]. Ao mesmo tempo, o Google segue 10 princípios que guiam suas ações. Alguns deles não são tão fortes, mas definitivamente podem ser relacionados ao código de ética jornalístico – entre eles buscar a verdade e reportá-la, minimizar os danos, agir com independência e ser responsável.
De certo modo, criar a arquitetura de um mecanismo de busca é selecionar conteúdo, o que sempre fez parte do processo de edição quando se decide, em um jornal ou revista, que matérias são importantes para o público. Disponibilizar o acesso ao conteúdo não é criá-lo, mas as duas ações estão ligadas. Assim, o Google não está apenas fornecendo conteúdo, mas trabalhando para divulgar conteúdo relevante, estatísticas verdadeiras e resultados de busca direcionados a fontes específicas e confiáveis.