Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um festival demodé

O grande defeito do palanquismo é a sua aversão orgânica às divergências. Se o desempenho, formato e resultados do Fórum Social Mundial fossem inquestionáveis, sua quinta edição não teria provocado tantas reações – inclusive a transferência para outras paragens – e veladas autocríticas.

Em matéria de mídia até agora o FSM só produziu um pastiche – o Observatório Mundial da Mídia – e abdicou de qualquer ação afirmativa, concreta, palpável.

Este tipo de festival político é demodé. Foi ultrapassado pela premência dos problemas contemporâneos. No caso da mídia, a premência é ainda maior dada a velocidade com que se processam as mudanças nesta esfera. Cada dia que passa sem que a concentração e a propriedade cruzada dos meios de comunicação sejam eficazmente contestadas, cristaliza-se a deformação informativa com efeitos desastrosos sobre o comportamento e os valores da nossa sociedade nos próximos anos.

As transformações que devem ocorrer na mídia brasileira não podem dispensar a participação ativa dos mediadores, os tais gatekeepers. Não adianta convocar os militantes das assessorias de imprensa – o negócio deles é outro –, será preciso atrair e provocar aqueles que além de fazer jornalismo estabelecem os paradigmas para os jornalistas de amanhã.

A cultura dos eventos produz uma cultura eventual, intermitente, inconseqüente. Se não estéril, cosmética. Quando a falação substitui a ação, começa a fantasia. Quando se impede o diálogo, é o delírio.