‘Ao vivo, como dizem os veteranos da TV, é outra história. Tanto pela saudável e insubstituível pulsação de tempo real que esse formato dá a qualquer transmissão quanto pelo notório grau de dificuldade técnica, operacional e pessoal que um programa ao vivo impõe a qualquer equipe, por mais experiente que ela seja.
O que se viu, na edição especial do Login deste 31 de março, depois da bela abertura (pré-gravada, claro) do novo programa da TV Cultura, no entanto, foi um jovem time de apresentadores que, mesmo sendo detentor de uma certa quilometragem na frente das câmeras, sofreu muito com o desafio de transformar a final do Prêmio Conexão Cultura em um programa de televisão.
Tanto no palco do Teatro Franco Zampari quando no estúdio, o que se viu foi uma alternância aflitiva de longas hesitações com espasmos de empolgação nervosa e algo artificial de Fábio Azevedo, Roberta Youssef, Gabi França, Zé Brites e Rodolfo Rodrigues diante da tarefa de levar o programa até o final.
Não é o caso de responsabilizar os apresentadores, por mais experientes que fossem, já que boa parte do programa interessava mais – ou exclusivamente – ao pequeno público que ocupava o teatro do que ao contingente muito maior de telespectadores sintonizados naquele momento na TV Cultura.
Tudo bem, alguns vts, ainda que lamentavelmente despreocupados em explicar expressões como ‘entregabilidade’ e ‘autonomia digital’ ao chamado público-alvo do programa, deram algumas informações sobre as categorias dos prêmios e sobre quais eram os finalistas. Na hora da premiação, porém, pouco se disse ou, principalmente, se mostrou sobre o que cada vencedor criou ou desenvolveu em seus respectivos telecentros e LAN houses.
Houve, sim, um depoimento de Marcelo Tas, uma bem-produzida matéria com o artista plástico Gilberto Salvador, autor da escultura do prêmio, a pequena participação do cantor MV e a presença no estúdio de Mário Brandão, presidente da Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital, este último às vezes se distanciando do público do programa com expressões (não explicadas) como ‘marco regulatório’ e outras. Mas o resultado, em termos de televisão, não deve ter sido estimulante para boa parte dos telespectadores.
Que não se conclua, apressadamente, diante desses problemas, que o melhor seria então deixar o quinteto de apresentadores à solta no estúdio, repetindo o formato do ex-futuro Programa Novo. Com todo respeito aos que apreciavam aquele formato, este ombudsman acha que uma coisa é brincar, sem rumo ou compromisso, como naqueles carrinhos de bater dos parques de diversão. Outra é ir de ‘A’ a ‘B’ e apresentar um conteúdo consistente, inteligível e enriquecedor.
Não foi desta vez, no estúdio e no Teatro Franco Zampari. Mas certamente poderá ser no futuro, quando – e se – o Login ganhar scripts ao vivo e pré-gravados mais adequados à televisão e, assim, de certa forma, dar uma resposta inteligente e criativa à letra da música da abertura do programa, que diz: ‘Você vem me dizer que eu não quero crescer. Será que é porque eu não me importo de ser como os caras da TV. Ou será porque eu não vou me conformar nem deixar o tempo me endurecer?’
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O bom e novo JC, 30 de março
Com a devida licença dos telespectadores que só querem saber do conteúdo e relevam questões relacionadas ao formato de um programa de televisão, esta análise do novo Jornal da Cultura, edição de terça-feira, 30 de março, começa pelo registro do bom gosto e da sobriedade que caracterizam a nova vinheta de abertura, da sutileza da nova trilha sonora e da elegância do novo cenário.
A sobriedade, no entanto, acabou acentuada demais, nesta terça, pelo cinza escandinavo que dominou não apenas o terno de Aldo Quiroga mas também o tailleur de Michele Dufour. E como não estamos fazendo jornal para os leitores do Le Monde Diplomatique ou para o Foreign Affairs, e nem queremos voltar ao tempo da TV em preto e branco, não custa nada o pessoal do figurino ficar atento para providenciar um complemento em vermelho ou outra cor mais forte para os apresentadores, sempre que o cinza ameaçar tomar conta do cenário novamente.
A programação visual das tarjas, dos selos temáticos e das passagens de bloco mantém o bom gosto e o conceito gráfico da nova vinheta, mas as infografias continuam, como no antigo JC, muito congestionadas por palavras e números que poderiam ser resumidos em frases mais enxutas e cifras mais arredondadas e, com isso, ter um tamanho menos acanhado e mais legível, principalmente em receptores de poucas polegadas. Aliás, é este princípio de clareza que está por trás da feliz decisão do JC de distribuir a previsão de tempo ao longo do jornal, por regiões.
O outro espaço cenográfico do novo JC, com um telão que finalmente merece o superlativo e os eficientes planos e enquadramentos do diretor de TV, foi ocupado com eficiência pela experiente Laila Dawa e tem tudo para contribuir para o bom ritmo do jornal. A entrevista de estúdio com o coronel e consultor de segurança pública José Vicente da Silva Filho, no entanto, mostrou que esta alternativa de conteúdo não pode afrouxar o rigor dos editores em relação à sua duração.
Para que essas entrevistas sejam solução e não problema, o JC não deveria se tornar refém delas, com todo respeito aos entrevistados. Até porque o público de um telejornal como o JC, ainda que aprecie uma entrevista que aprofunde temas da atualidade, não pode desconfiar de que alguma notícia importante do dia esteja ficando de fora por causa do tamanho desta mesma entrevista.
E por falar em notícias importantes do dia, todas aparentemente estavam nesta edição do JC. Vale registrar, no entanto, que na reportagem de Juliana Barletta sobre a inauguração do novo trecho do Rodoanel, havia duas omissões: de um lado, faltou a explicação de que a antecipação da entrega solene da obra se deveu à iminente saída de José Serra do governo estadual para disputar a presidência da República. Informação semelhante, aliás, seria dada no mesmo JC, na reportagem que abordou a sucessão de Henrique Meireles no comando do Banco Central e sua possível pré-candidatura a vice na chama da ministra Dilma Rousseff.
Por outro lado, fez falta, na mesma matéria sobre o Rodoanel, independentemente de qual esfera de governo fosse politicamente beneficiada, um complemento sobre as notórias vantagens que a entrada em operação do novo trecho proporcionará aos milhares de paulistanos que atualmente sofrem com os caminhões que lotam a Avenida dos Bandeirantes e a Marginal Tietê.
O balanço deste novo passo do Jornal da Cultura, no entanto, na opinião deste ombudsman, não poderia ser mais animador. Principalmente se este ombudsman comparar o JC desta terça, 30 de março, com o que telejornal que ia ao ar no início desta ouvidoria, em julho de 2008.’