A vida digital dos jornais impressos tem sido um verdadeiro calvário de apostas no escuro e de uma persistente falta de parâmetros sobre o que pode ou não dar certo.
O grupo gaúcho RBS, por exemplo, apostou inicialmente na marca diferenciada ClickRBS para assinalar a sua presença noticiosa na Web, mas agora muda de estratégia para colocar suas fichas em identidades que o público já conhece, como os seus carros-chefes , os jornais Zero Hora e Diário Catarinense.
O dilema do grupo RBS é o mesmo de quase todos os grandes jornais brasileiros e também dos principais grupos jornalísticos europeus e norte-americanos. Eles não sabem se é melhor usar marcas associadas a produtos impressos para atrair leitores virtuais ou criar um produto específico para os internautas.
Ninguém até agora descobriu a fórmula mágica, embora seja cada vez mais intensa a migração de leitores para as edições online. As estatísticas européias falam de mais de 40% de crescimento da visitação nas páginas online em jornais como o britânico The Guardian.
O que todos os executivos de jornais já sabem é que a versão online tende a se diferenciar cada vez mais da versão impressa por conta de comportamentos e demandas especificas dos leitores virtuais.
Todos os jornais do mundo começaram praticamente transcrevendo o material impresso na internet. As primeiras versões clonadas sobrevieram até 2001 e 2002 quando os jornais aderiram à moda do portal de notícias, onde a atualidade compartilhava espaços com produtos tipicamente web, como blogs, chats, enquetes, fóruns etc.
Com o passar do tempo, os portais foram se distanciando cada vez mais das versões impressas e os executivos passaram a enfrentar o dilema de preservar minimamente as características do jornal vendido em bancas ou descaracterizar totalmente marcas centenárias para seguir as tendências da Web.
A dificuldade da escolha é ampliada pela angustiante coincidência da sucessão de indicadores pessimistas sobre a indústria da notícia impressa em papel e das estatísticas alvissareiras sobre aumento de público e publicidade no mundo dos portais noticiosos.
Alguns jornais norte-americanos e europeus chegaram a assistir perdas de 7% a 13% nas receitas publicitárias impressas, enquanto a versão online das mesmas publicações dispara em direção a índices superiores a 20%, na coleta de anunciantes.
No Brasil, a opacidade corporativa dos grandes conglomerados mediáticos nos priva de indicadores mais precisos sobre a realidade do setor. Mas se depender da angústia dos seus principais executivos, a situação é para lá de preocupante, mesmo com os saudáveis índices de faturamento publicitário neste final de ano, especialmente no eixo Rio-São Paulo.
Ao apostar nas velhas marcas ZH (Zero Hora) e DC (Diário Catarinense), o grupo RBS procura frear a debandada de público rumo à voragem informativa na Web, bem como tenta manter o velho rebanho de leitores dentro dos limites do virtual monopólio jornalístico do conglomerado no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A RBS reproduz a estratégia usada por outros grupos da mídia, principalmente na Europa, de criar produtos diferenciados. Assim o portal ClickRBS será mantido para se tornar um produto genuinamente Web, para abrir blogs, chats, vídeos, radio online e tudo o que ainda está por vir. A perna comercial da estratégia do grupo gaúcho é o portal Hagah, voltado para o comércio eletrônico, empregos e classificados.
O problema é que, como já aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, os produtos diferenciados não conseguem decolar quando sua imagem está descolada das marcas tradicionais impressas. Isto faz com que eles, em termos de imagem pública, tenham que enfrentar, em pé de igualdade, a concorrência de iniciativas exclusivamente online, que são muito mais ágeis.
No fundo o principal problema dos principais jornais impressos é a sua própria grandeza, porque desenvolveram estruturas pesadas e burocráticas que apresentam uma grande inércia na definição de novas estratégias para sua presença online.
Quando finalmente decidem mover-se são forçados a concorrer com novatos que nasceram dentro da Web e a conhecem muito melhor. Há casos de sucesso como o Guardian, O Globo, The Washington Post e El Mundo (espanhol), mas a grande maioria dos jornais impressos ainda não sabe para onde ir e como ir.
Conversa com os leitores
A leitora Izabela Rangel levantou uma interessante questão sobre a aplicação de princípios da probabilidade e estatística na definição da credibilidade da Wikipédia. Ela disse que não conseguia ver o que uma coisa tinha a ver com a outra. Minha opinião é que a Wikipédia, em si, não usa nenhum algoritmo modelado para aplicar leis da probabilidade. Mas o estudo das freqüências de correção e edição segue basicamente os padrões estatísticos. A probabilidade não está embutida no funcionamento da Wikipédia, mas ela explica o comportamento dos colaboradores e usuários. A Wikipédia não pretende ser o único padrão de veracidade e exatidão. Ela é apenas um deles e sua exatidão aumenta na medida em que aumentar o número de colaboradores, porque ela poderá contextualizar melhor as informações, graças a uma maior diversificação das colaborações.